TRAILER DO DVD "UM PIRATA NA FAZENDA MURYCANA"
www.youtube.com/watch?v=noA6F8IF1ww

CONTATOS PARA SHOWS E EVENTOS

E-MAIL:piratadeparaty@hotmail.com
TEL;(24) 98385378 / (24) 88222197

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Os Grandes Piratas

Ao pensar em piratas, lembramos daqueles homens barbudos de sabre em punho, chapéu ou lenço na cabeça, tapa-olho, botas de cano longo, pernas-de-pau e papagaio no ombro. Sim, são esses mesmo, com exceção do papagaio. No século 17, ser pirata era uma profissão de alto risco, já que a punição para o praticante - se capturado - era a morte sem piedade. Mesmo assim, centenas de homens atraídos por esse desafio e pela emoção do dinheiro fácil infestaram os mares durante os séculos XVII e XVIII.

Mas havia compensações. Eles adotavam uma tabela de indenização por acidentes de trabalho: um olho valia 500 dobrões de ouro; dois olhos valiam mil. Um dedo valia 100 dobrões - e com anel valia mais, claro!

A palavra original "pirata" quer dizer tratante, ladrão, patife, canalha. A palavra-chave deles era "pilhar" e por pouco não foram tachados de "pilhatas", mas existem outros termos como bucaneiro, corsário, flibusteiro. Seja como for, todos pilhavam valores alheios para obter lucro, sem preconceito. O local mais infestado desses profissionais era o Golfo do México, a ilha de São Salvador, Tortuga e Jamaica, onde galeões espanhóis singravam os mares cheios de ouro.

Como diz o ditado: "Onde há riqueza há predadores!"

A bandeira preta com um caveira branca e dois ossos cruzados apavorava quaquer marinheiro. Claro, a relação caveira & ossos era a morte! Havia dois tipos de bandeira: a preta e a vermelha. A vermelha causava mais horror, pois significava que os piratas não teriam misericórdia.

Essas apavorantes bandeiras eram chamadas de Jolly Roger. Para os ingleses "Old Roger" era o diabo. Com o tempo o nome afrancesou-se para "Jolie Rouge" (vermelho bonito) e depois para "Jolly Roger".

De bonito não tinha nada, mas cada capitão pirata tinha sua Jolly Roger. Jack Rackham hasteava em seu navio uma bandeira de fundo preto com uma caveira sobre duas adagas brancas (modelo usado no filme "A Ilha da Garganta Cortada"). Alguns piratas usavam só a caveira; outros preferiam uma caveira sobre duas tíbias, como o Capitão Edward England.

A história cita vários piratas famosos: Francis Drake; Henry Morgan; William Kidd, John Rackham; René Duguay-Trouin; Jean Lafitte; e duas piratas: Mary Read e Anne Bonny.

O tempo de vida era curto. Alguns morriam em tabernas, bêbados ou em brigas violentas. Quando não, havia febres, fome, furacões. Outros morriam honrosamente em batalha, a golpes de espada ou tiros de mosquete. O pior de tudo era morrer na forca.

Bartolomew Roberts foi o último pirata. Morreu em 1722 a bordo do seu navio. Vestia calções de rico brocado carmesim. Na cabeça, tinha um chapéu com uma pluma vermelha. No pescoço, usava uma corrente de ouro com uma cruz de diamantes e tinha duas pistolas presas a uma faixa de seda na cintura. Morreu em grande estilo.

capítulo 1
pirataria - uma profissão antiga


Voltemos no tempo, à época em que o comércio começava a se desenvolver entre as nações do Mediterrâneo. Claro, com tantas riquezas circulando (ouro, cobre, madeiras, especiarias) logo alguém teve a ideia de se apoderar das mercadorias e lucrar de forma fácil.

Os filisteus fizeram a primeira empreitada, atacando a frota do faraó Ramsés III, no Mar Egeu, mas não foram bem sucedidos. Os soldados egípcios dispararam flechas sobre os barcos dos piratas que, em pânico, foram abordados e facilmente trucidados.

Os fenícios, excelentes navegadores, também praticavam o comércio de escravos e a pirataria.

Em 78 a.C, a galera em que viajava o ainda jovem Júlio César foi atacada por piratas perto da ilha de Farmacusa. Apesar dos passageiros em pânico, o elegante romano ficou calmo. O chefe dos piratas, achando que era um homem muito rico, disse que o libertaria em troca de 500 talentos. César olhou-o com desdém e respondeu ao pirata que se soubesse quem era, teria pedido três mil. Certo de que faria um bom negócio, o pirata aceitou a proposta e não atirou o romano ao mar, preferindo mandar alguém buscar o resgate. Enquanto isso César foi tratado como um hóspede. Passava os dias nadando, correndo e praticando luta com os vigias. Um dia, César disse que se voltasse a encontrá-los, os executaria. Um mês depois, o dinheiro chegou e César foi libertado. Em Roma, armou quatro galeras com 500 homens, voltou e atacou o covil dos piratas. Matou a todos, inclusive os vigias, e recuperou o dinheiro do resgate.

No ano de 286 d.C, outro romano, Marcus Aurelius Carausius fiscalizava com sua frota as costas das ilhas britânicas para capturar piratas. Mas em vez disso fez um acordo com eles e instalou-se na região para sorver lucros. Seus legionários, revoltados, o mataram.

As Ilhas Britânicas também sofreram constantes ataques e saques dos Vikings em 793, assim como as costas da Europa.

Em 1205 o rei da Inglaterra, João Sem Terra, teve uma ideia diferente: contratou o mercenário francês Eustace, o monge, também chamado de Eustace de Luxeuil, que estudara magia negra em Toledo (Espanha) e depois se internou num mosteiro Beneditino em Saint Samer Abbey, perto de Calais (França). Ao sair do mosteiro cometeu uma série atrocidades e foi declarado fora da lei na França. Passou então a atuar como pirata no Canal de Dover.

Nessa época é contratado para atacar Felipe II da França e o rei inglês lhe dá trinta navios. Eustace e seus irmãos invadem as costas da Normandia e fixam bases nas Ilhas do Canal. O rei o recompensa pelos bons serviços, mas, em 1212, Eustace vai trabalhar para França e quando as tropas inglesas tomam suas bases no canal ele invade Folkestone, incendeia a vila e mata os camponeses.

Capturado pelos ingleses, Eustace tenta negociar, mas é decapitado após a Batalha de Sandwich, em 24 de agosto de 1217.

Ideia melhor teve a dupla Godekin Mighel & Clays Scheld Stertebeker, quando criou em 1395 um nome original para seu bando de piratas: "Os Amigos de Deus e Inimigos do Mundo" que atuava desde o Mar do Norte ao Báltico.


Não há mal que sempre dure

Enfim, na Inglaterra, foi criado em 1360 o Alto Tribunal do Almirantado para julgar crimes de pirataria. Muitos foram enforcados e acorrentados ao longo do rio Tâmisa. Mas figurões como John Hawley, um inglês de Dartmouth, nascido em 1340, que roubou 34 navios mercantes franceses, galeras espanholas e genovesas, não apareceu na lista de criminosos. Hawley era um rico comerciante, proprietário de terras, político local (14 vezes prefeito), marinheiro, herói de guerra, corsário e pirata. Morreu em 1408.

As coisas começavam a mudar no século XVI. Com a descoberta do Novo Mundo, o Canal da Mancha, o Mediterrâneo, o Mar do Norte, já não ofereciam tantos atrativos. Apenas os piratas otomanos pilhavam o Mediterrâneo. Piratas astutos e experimentados viram mais a oeste uma nova fonte de riquezas fartas e fáceis.

A chance de fazer fortuna podia ser encontrada no Mar das Antilhas, pois foi onde Cristóvão Colombo descobrira Guanahani (São Salvador) e tomara posse em nome de Espanha. Agora a região acenava para ávidos ladrões do mar com tesouros reluzentes.

Outros tempos, outras potências. Portugal e Espanha dividiam o Novo Mundo. A França, a Inglaterra e a Holanda queriam sua parte nessa prata e ouro dando mole no Mar do Caribe.

No final do ano de 1522, o espanhol Hernando Cortez assistia do porto Vera Cruz (México) a partida de três caravelas carregadas de ouro e pedras preciosas, pilhadas do palácio do imperador asteca Montezuma, que estavam sendo levadas para a Espanha, mas essa mercadoria jamais chegou a Carlos V (de Habsburgo), que estava em guerra com a França desde 8 de maio de 1521. Corsários franceses pilharam os navios inimigos no Mediterrâneo. Era uma corriola chefiada por Jean Angot, um armador da cidade de Dieppe que possuía mais de 70 embarcações as quais fornecia a Francisco I de França para explorações marítimas.

Angot, quando não podia ir às pilhagens, mandava seus capitães. Um deles, Jean Fleury, navegava no mar dos Açores no começo de 1523 quando as caravelas de Cortez passaram rumo a Cádis. Fleury os atacou, pois, se vinham do México, eram boas presas. Os navios-escolta fugiram e as três caravelas se renderam. O imediato de Cortez, Alonso de Ávila, foi aprisionado e quando os corsários vasculharam os porões dos navios espanhóis, ficaram boquiabertos com tanto ouro. Logo depois, o tesouro foi para os cofres do rei Francisco I.

Mas tal ousadia não passou em branco para os espanhóis. Anos após, capturaram Fleury que, sem saída, gabou-se de ter pilhado 150 navios espanhóis entre galeões, caravelas e carraças. Mas de nada adiantaram os argumentos do corsário, que foi decapitado.

A Espanha precisava do ouro asteca e da prata do Peru. De Vera Cruz saíam cada vez mais navios abarrotados de ouro. Alguns passavam e outros eram interceptados por piratas e corsários franceses. Jean Angot capturou pelos menos nove barcos cheios de prata vindos do Caribe. Essa "fuga pelo ladrão" de riquezas preocupava os espanhóis que queriam criar um sistema de proteção para os barcos que cruzavam o Atlântico.


Entrepostos lucrativos

Uma das ilhas do Mar do Caribe era Cuba, na qual o porto de Havana era bem movimentado. Apesar de pequena, a cidade era o centro do comércio dos espanhóis. Ali aportavam os galeões que recebiam barras de ouro e de prata, transportadas em lombo de mula desde as minas do Peru, e depois seguiam pelo "camino real" através do istmo do Panamá. Em havana também aportavam navios vindos de Vera Cruz (México) cheios de ouro e prata, esmeraldas, pérolas, cochonilha, gengibre, peles, tinturas, cacau, açúcar. Desse porto cubano, barcos cheios de riquezas zarpavam para a Europa.

Em 1554 o bucaneiro francês Jacques de Sores ataca e saqueia Santiago de Cuba, seguido meses depois, pelo compatriota François Leclerc, também conhecido por Jambe de Bois (Perna-de-pau) - que parece ter sido o primeiro a usar tal prótese. Em julho de 1555, de Sores ataca Camagüey e desembarca na vila de Porto Príncipe. Dias depois, Jacques de Sores se junta ao Perneta Leclere e tomam Havana. De Sores, que era huguenote mais fanático do que Leclere, insulta e tortura os padres, profana as igrejas e as saqueia, rouba e mata colonos ricos e estupra as mulheres. Enfim, nada mais encontrando de valor em Havana, manda incendiar a cidade. Esse mesmo de Sores, em atuação nos mares das Ilhas Canárias, aborda em 1570 um navio que ia para Brasil com 39 jesuítas. Seu ódio aos católicos era tanto que, após torturá-los cruelmente, os executa.

A coroa espanhola toma conhecimento da crueldade sanguinária dos bucaneiros franceses e nada faz, pois está às turras com um novo inimigo cujo poder naval está crescendo: a Inglaterra


John Hawkins - pirata e corsário

Em setembro de 1569, uma tempestade força três barcos a serviço da rainha da Inglaterra a aportar na costa mexicana, que eram terras espanholas. O pequeno porto de San Juan de Ulloa, não era mais do que um banco de rochedos e seixos, a vinte quilômetros de Vera Cruz.

Um dos barcos era o galeão Jesus of Lubeck comandado por John Hawkins, um inglês nascido em Plymouth. De 1562 até 1565, Hawkins fizera viagens comerciais por Serra Leoa e São Domingos, que lhe renderam bom dinheiro com a venda de escravos africanos, mercadoria que os espanhóis sempre compravam. Nessa época ele usava a costa de Pinar del Rio para se refugiar e abastecer os navios.

Nessa terceira viagem comercial (1567-1569) às índias Ocidentais, seu barco estava em péssimo estado, pois passara por uma batalha antes de sair da África, onde se aliou ao rei de.Serra Leoa para combater seus inimigos portugueses. Cercaram a cidade e a reduziram a cinzas. Fizeram centenas de prisioneiros. Alguns foram comidos pelos vencedores, outros levados por Hawkins e vendidos aos espanhóis.

No porto de San Juan de Ulloa, Hawkins só pensava êm voltar à Inglaterra, mas a tempestade o mantinha prisioneiro das costas cubanas. Então resolveu pensar em outra coisa. Navios cheios de ouro e de prata saíam daquele porto. Não tardou. Hawkins levantou âncora, tomou a ilha de San Juan e se apoderou dos canhões que protegiam o porto. Mas pela manhã chegou um comboio com onze navios mercantes escoltados por dois galeões de guerra. No comando estava Don Martin Enriquez, o vice-rei da Nova Espanha. Hawkins teve calafrios.

Ele não deveria ter feito aquilo. Agora tinha apenas três barcos, que não dariam conta da batalha. O Jesus of Lubeck deslocava 700 toneladas, mas fazia água. O Judith, construído em 1559, comandado por seu inexperiente primo Francis Drake, deslocava 736 toneladas e estava armado com 16 canhões de 18 libras e 10 canhões médios de 9 libras nas duas pontes. A tripulação era de 120 homens. O Minion deslocava apenas 300 toneladas. A vantagem era dos espanhóis, certamente.

Hawkins tenta negociar com eles. Após três dias, ele concorda em autorizar os navios do vice-rei a ancorarem perto dos seus, mas, por outro lado, os ingleses teriam licença para se abastecer de água potável, víveres e ficar no porto até terminarem os reparos.

Enfim, concordaram em manter a paz, mas Don Martin tinha em mente outros planos para os piratas ingleses, pois não precisava de acordos desse nível. Preparou um ataque aos navios ancorados seguido da recuperação dos canhões da ilha. Mandou trazer soldados da guarnição de Vera Cruz durante a noite em seus navios mercantes.

O instinto pirata de Hawkins farejaya traição. No intervalo de uma piscadela, o ataque-surpresa espanhol já estava sendo executado. Os soldados espanhóis desembarcaram e sem qualquer dificuldade tomaram os canhões do porto dos ingleses.

Um navio mercante, onde estava o vice-almirante, Juan de Ubilla, aproximou-se do Minion. Hawkins conseguiu repelir um grupo de soldados espanhóis que tentava abordá-lo e, após um fumacento desfecho de bombardas, alguns navios espanhóis foram afundados. O paiol de pólvora do navio-almirante explodiu, mas o navio afundou em água rasa e continuou o combate.

A batalha teve seu fim quando os artilheiros espanhóis derrubaram os mastros do Jesus of Lubeck. Hawkins teve de abandonar o navio, transportando homens, víveres e tesouros para bordo do Minion.

Com a chegada da noite, houve uma trégua entre os combatentes. Jüdith, agora comandado por Drake, e o Minion foram para longe do alcance dos canhões espanhóis.

Na manhã seguinte veio a tempestade. O Minion quase afundou, e o Judith desapareceu. Os sobreviventes no Minion fizeram uma viagem de volta tormentosa, pois o barco estava sobrecarregado e podia afundar. Metade dos homens ficou numa praia deserta das costas mexicanas por medo de enfrentar Atlântico bravio. Alguns morreram de fome, outros foram aprisionados, torturados, açoitados e julgados pela Inquisição espanhola.

Três meses depois, o Minion ancora na Cornualha, Inglaterra. Hawkins voltava com apenas quinze homens, forçados a comer ratos e couro cozido, quando faltou alimento.

Por outro lado, Drake chegou com quase toda a tripulação do Judith sã e salva ao porto de Plymouth, cinco dias antes de Hawkins. Até hoje não foi explicada a deserção de Drake. Hawkins nunca comentou o fato.

O principal traficante de escravos desde África até a América e que levara tantas glórias e riquezas à Inglaterra, só voltaria ao Caribe 25 anos depois. Nessa sua última aventura, em 1595, comandou uma frota de 27 navios com a qual tencionava conquistar as Antilhas espanholas, junto com seu primo Francis Drake. Após dois ataques fracassados à ilha de San Juan, ambos ficaram doentes. Hawkins morreu no mar às costas de Porto Rico, aos 63 anos, mas sua fama de corsário foi estendida pelo filho Richard Hawkins. Drake morreria meses depois na Inglaterra, como veremos a seguir.


Francis Drake - corsário com pátria

Carregando o estigma de fujão na batalha de San Juan de Ulloa, Francis Drake tentou melhorar sua imagem de corsário. Logo sua fama de homem audaz se espalhava pelo Mar do Caribe e conquistava o respeito dos espanhóis. Não só por sua personalidade, mas também pelo corpo entroncado, rosto corado, olhos cinzentos penetrantes, e barba aparada em bico, ele impunha veneraçãoe lealdade de seus homens.

Para o povo inglês ele era um herói. Para a rainha inglesa, Elisabete I, ele era romântico, aventureiro e outras coisas.

No Verão de 1577, Drake estava no Oceano Pacífico observando o porto do vice-reino do Peru, Nombre de Dios, onde ancoravam navios cheios de ouro e prata. Esse ponto do istmo do Panamá era conhecido em espanhol por Tierra Firme e em inglês por Spanish Main (Praias Espanholas). Ali, a prata e o ouro vindos do Peru eram descarregados, enviados por terra até o Mar do Caribe e embarcados em galeões espanhóis.

Quando zarpou de Plymouth em 24 de maio de 1572, em dois barcos pequenos, o Pascha (70 toneladas) e Cisne (25 toneladas), com uma tripulação de 73 homens, Drake se propunha a capturara cidade de Nombre Dios. Sua primeira tentativa foi em julho de 1572 e obteve sucesso. Desembarcando com seushomens numa praia vizinha, Drake fez um ataque surpresa. Armados com mosquetes, arcabuzes e archotes flamejantes, dois grupos de marinheiros entraram no porto, um pelo norte, comandado por Drake, e um pelo sul, liderado pelo tenente John Oxenham e John Drake (primo de Francis). Juntaram-se na praça do mercado. Vendo tudo deserto e as ruas vazias, Drake e Oxenham comemoraram a vitória.

O próximo passo era o entreposto onde estavam os lingotes de prata, mas Drake preferiu pilhar o entreposto do ouro. Enquanto Oxenham e Drake punham abaixo a porta do armazém do ouro, ouviu-se um tiro e Drake caiu ferido. Sua perna jorrava sangue. Soldados espanhóis contra-atacavam. Drake deu a ordem de abandonar a missão e voltar para bordo. Oxenham o levou para a praia, e o resto do grupo regressou aos navios em botes lotados.

O tesouro de Nombre de Dios ficou lá. Mas Drake tinha planos de voltar. Nesse ínterim ficou ponteando o istmo por quase um ano, atacando a marinha espanhola para capturar mercadorias.

Em 1573, Drake e seus homens estavam prontos para emboscar uma caravana de mulas cheia de ouro e prata que serpenteava pelo istmo do Panamá. Foram quatro dias de marcha pela selva sob o peso das armas e munições. Enfim, alcançaram um cume. Drake e Oxenham subiram numa árvore e viram, maravilhados, de um lado do istmo, o Mar do Caribe e do outro, as águas azuis do Oceano Pacífico, que tornou famoso Fernão de Magalhães.

O local era propício para a emboscada. Os corsários se esconderam nos arbustos. Foram horas de espera sob o ataque de insetos e do calor infernal. A tensão aumentava até que o tilintar dos guizos das mulas soou. Os homens ficaram num silêncio só maculado pelo som do bofetão no pescoço suado para liquidar um pernilongo inconveniente. Os guizos das mulas ressoaram mais perto. Drake fez sinal para o ataque.

Violentamente, o bando de corsários salta sobre a caravana. Não houve resistência, nem mesmo um tiro foi disparado. Em vez de sorriso de vitória, o descontentamento tomou conta do rosto dos corsários quando constataram que as mulas carregavam apenas víveres. O resto da caravana com os valores havia mudado de rota, pois os soldados anteciparam o plano de Drake. Sem outra alternativa, os corsários bateram em retirada.

Enquanto planejava outro saque, Drake aliou-se ao flibusteiro francês Guillaume le Testu, para emboscar a caravana. O lucro seria dividido meio a meio.

Lá estavam 34 corsários no mato aguardando a chegada da caravana com 190 mulas carregadas de ouro ou de prata. Quando a primeira mula despontou, eles lançaram-se ao ataque. Os soldados espanhóis reagiram e, após vários tiros, um atingiu Le Testu na barriga. Aproveitando o momento de indecisão dos corsários, os espanhóis fogem a galope em busca de reforços, deixando as mulas que, desta vez, carregavam ouro e prata.

Na verdade, era bem mais do que os corsários poderiam levar. Drake mandou os homens enterrarem os lingotes de prata para apanharem depois. Enquanto enchiam os bolsos com as moedas de ouro restantes, ouviram a tropa espanhola a caminho e fugiram para a floresta. Um corsário meio bêbado ficou para trás e foi capturado. Torturado, revelou o esconderijo. De posse dos lingotes, os espanhóis não perseguiram os corsários, mas capturaram o francês Testu desmaiado ali perto e o decapitaram. Apesar da perda do pirata francês, o ganho com as moedas de ouro garantiu-lhes uma boa soma para gastar.

Drake ficou no Caribe ainda por mais um ano, fazendo guerrilhas e atacando navios espanhóis. Foram mais de cem. Tinha acumulado uma fortuna em ouro, prata e pedras preciosas e tinha direito a boa parte dela. Em 9 de agosto de 1573, já estava em Plymouth, rico e pronto para mais uma aventura.

Três anos depois, John Oxenham, ajudado por escravos fugitivos, ataca duas barcaças cheias de prata vindas do Peru. Aprende a mercadoria, mas liberta as tripulações, que avisam às tropas espanholas. A corriola de Oxenham encheu a cara de rum e foi acampar na floresta. De madrugada, os espanhóis cercam o bando. Eles lutam ferozmente. Doze piratas morrem. Vencidos, Oxenham e seus homens são acorrentados e levados para a cidade de Panamá. Questionado se tinha licença da rainha para o corso, respondeu que não. Em seguida todos foram executados.


Drake volta à ativa

No dia 1 de março de 1579, o Golden Hind, comandado por Francis Drake encontra o galeão Nuestra Señora de la Concepción, gloria da marinha espanhola, também chamado de Cacafuego (Caga-fogo). Na verdade, quem o avistou foi o capitão John Drake, primo de Francis.

Este poderoso navio trazia os porões recheados de lingotes de prata do Peru para o Panamá. Era uma bela presa ao alcance da mão - sem gancho. O Golden Hind (Corça Dourada, ou Traseiro Dourado) navegava ao longo das costas do Equador e estava a nove milhas do Caga-fogo espanhol. Drake preferiu esperar a noite para um ataque-surpresa e reduziu a velocidade do seu navio.

Ele podia esperar. Desde 1577 estava no mar. Já tinha dobrado o cabo Horn em agosto de 1578 - no extremo da América do Sul - e entrara no Oceano Pacífico, que avistara do alto de uma árvore no Panamá com o saudoso Oxenham. Em 13 de fevereiro de 1579, tinha assaltado o porto peruano de Callao, de onde trouxe baixelas de ouro e sedas. Mas agora estava atrás de tesouros espanhóis para a rainha e à sua frente ia o Caga-fogo.

No galeão espanhol, o comandante San Juan de Anton pensava que o Golden Hind lhe trazia alguma mensagem; mudou o rumo e emparelhou com o navio pirata. Drake mandou que baixassem a bandeira e se rendessem.

O comandante espanhol desafiou-o a vir a bordo e fazer isso ele mesmo. Drake deu sinal de combate e os corsários ingleses mandaram ver uma chuva de flechas e balas de arcabuz sobre os espanhóis. Um tiro de canhão derrubou o mastro de mezena que caiu no mar com todo o velame. Os cães do mar em fúria saltaram para dentro do galeão. O capitão San Juan foi amarrado e levado para o Golden Hind,onde Drake mandou rendê-lo no castelo da popa.

O galeão espanhol transportava uma fortuna que Drake nem imaginava: treze cofres cheios de moedas de ouro, oitenta libras de barras de ouro, vinte e seis toneladas de prata, peças de ourivesaria, pérolas e jóias. Francis Drake se tornaria um dos homens mais ricos de seu país.

Além do mais, eles roubaram cartas marítimas com as rotas dos galeões espanhóis desde Manila, Filipinas e Acapulco.

Mais tarde, Drake tentou atacar um galeão filipino carregado de sedas da China, musselinas, especiarias e perfumes do Oriente, mas não teve êxito. Seguiu viagem pela costa americana até a cidade de San Francisco. Deu seu nome à baía e batizou a Califórnia como Nova Albion. Atravessou o Pacífico rumo às ilhas Molucas. Fez comércio com os portugueses e embarcou seis toneladas de cravo-da-índia. Porém, na volta, o barco bateu num recife e ele teve de jogar metade das mercadorias no mar na Malásia. Continuou viagem, passou o Cabo da Boa Esperança e chegou a Plymouth, Inglaterra, em 13 de dezembro de 1580, após ter feito a segunda circunavegação do mundo.

Foi recebido com honrarias. A fortuna levada por ele chegava a alguns milhões de dólares - na moeda de hoje. Perdera apenas 30 marinheiros e não mandara executar nenhum espanhol aprisionado.


Mãe de pirata, pirata é!

A fortuna da família de John Killigrew vinha da pilhagem e contrabando nos mares. Eles mantinham uma pequena frota, financiavam expedições ilegais, subornavam chefes das alfândegas e administravam uma rede clandestina de venda de produtos pilhados.

Na elegante mansão perto do porto de Falmouth morava a senhora Killigrew, mãe de John, uma ágil velhinha que comandava várias operações ilícitas. Sempre atentos a novas pilhagens, os espiões da senhora Killigrew descobriram que um navio espanhol, abarrotado de lingotes de prata, havia aportado em Falmouth devido ao mau tempo. Naquela noite tempestuosa de 1582, os oficiais espanhóis foram ao porto beber. A senhora Killigrew, em meio à tempestade, encheu um barco de piratas armados que foram assaltar o navio. Os marinheiros foram dominados e executados em poucos minutos. Os piratas saquearam tudo e voltaram para a mansão da família.

Quando souberam do incidente, os donos do navio espanhol o denunciaram às autoridades inglesas. Após o inquérito, a senhora Killigrew foi presa e levada ao tribunal. As duas nações não estavam em guerra, portanto a pilhagem foi considerada crime capital. Condenada como chefe das operações, a senhora Killigrew subiu a cadafalso para ser executada, porém, segundos antes, a rainha comutou a pena da pobre velhinha e dois fiéis criados ocuparam o lugar dela.


Países em guerra - vale tudo!

Três anos após o incidente Killigrew, a Inglaterra e a Espanha entraram em guerra e as cartas de corso correram soltas. Francis Drake comandava o Revenge. Em junho de 1588, no meio da batalha com a Invencível Armada, Drake viu o galeão espanhol Nuestra Señora

del Rosario e não resistiu a tentação da pilhagem. Separou-se da frota e atacou. Fez 200 prisioneiros e surrupiou 55 mil ducados escondidos a bordo. Depois se juntou a frota inglesa novamente.

Os novos galeões espanhóis tinham canhões que disparavam balas de cinqüenta libras contra as de dezoito libras dos ingleses, que levavam a vantagem da pontaria precisa e mais mobilidade, pois os canhões eram montados sobre rodízios. Após vários combates, os ingleses empurraram pequenos barcos incendiários (brunotes) para o meio da frota inimiga. Os navios espanhóis começaram a arder e os ingleses os bombardearam sem dó. Como se isso não bastasse, veio a tempestade e a invencível armada se retirou para o Norte. Ao contornar as costas da Escócia e Irlanda, vários desses galeões naufragaram. A frota de 130 navios chegou à Espanha com 79. Nessa decisiva batalha, os ingleses não perderam um só navio.

Em 1595 Drake e Hawkins zarparam para o Mar do Caribe visando uma grande pilhagem. Mas na véspera do ataque a San Juan de Porto Rico, John Hawkins morreu a bordo do seu navio. Drake continuou a sua rota, sonhando atacar o Panamá, mas, quando ancorado ao largo de Porto Belo, foi atacado por febre e crise de disenteria. Morreu na noite de 27 de janeiro de 1596.


Novo século, novos corsários

O lugar preferido dos corsários era o Mar do Caribe: Cuba, Porto Rico, México, Panamá, Flórida etc. Havia bandidos de todo lugar do mundo, mas todos falavam uma só língua: o pilhadês!

Após a derrota da Invencível Armada, os espanhóis perderam domínio dos mares. A Holanda, então, tinha uma Bela frota - o terror das Antilhas. Colonos holandeses, franceses e ingleses, ajudados pelos flibusteiros, estavam prontos para desembarcar nas ilhas outrora espanholas e queriam começar logo a produzir tabaco e cereais.

Em 1621 os holandeses fundaram a Companhia das Índias Ocidentais, a fim de organizar o comércio e financiar os novos negócios nas ilhas.

Em maio de 1628 uma frota de 31 navios de guerra bloqueava a entrada do estreito da Flórida, que ficava ao norte das costas cubanas. Os navios dispostos em círculo eram comandados pelo corsário holandês Piet Hein. Vamos chamá-lo aqui corsário, e não flibusteiro, por que ele estava a serviço de uma empresa.

Voltando ao mar, no horizonte, uma silhueta de galeões espanhóis vindos do México dava o maior mole sem saber o que os esperava. Piet Hein há anos ouvira falar daquela fonte de riquezas e queria sua parte. Era um corsário experiente e logo percebeu algo errado na distância entre as velas dos galeões. Os primeiros nove navios do comboio estavam muito afastados dos quatro que vinham logo atrás. Isso era bom, pois, afastados, os navios-escolta não teriam tempo de socorrê-los.

Àquela distância, os canhões holandeses poderiam atingi-los. Piet Hein a bordo do Witte de Com, estava ansioso diante da fortuna fácil e muito apreensivo com a mudança de rumo. Isso significava que galeões espanhóis tinham avistado os navios de guerra holandeses.

A situação era favorável aos holandeses que cercaram os espanhóis por três lados e fecharam a armadilha. Piet disparou algumas salvas suficientes para as bandeiras arriarem em rendição, mas havia quatro navios de guerra espanhóis a boa distância dali e tudo indicava que haveria uma batalha.

Os navios espanhóis estavam bem equipados, mas os holandeses tinham 700 canhões e três mil homens. Os espanhóis estavam com excesso de carga e passageiros. Não havia tempo para carregar os canhões e assim que os navios holandeses se aproximaram, os galeões fugiram, mas encalharam. Os corsários holandeses, bem armados, saltaram para bordo e a batalha acabou.

A Frota da Prata espanhola estava abarrotada de couros finos, cochonilha, índigo, madeiras corantes, cacau, açúcar, gengibre e especiarias, além de pérolas, ouro e prata. Uma fortuna. A vitória foi duplamente compensadora à Companhia Holandesa das Índias Ocidentais: uma lucrativa pilhagem e um golpe no poder naval e prestígio político da sua grande rival, a Espanha.


capítulo 2
pedro, o grande - o pequeno bucaneiro

A primeira empreitada dos espanhóis de cultivar Hispaniola foi abandonada. O mato cresceu rápido e os plantios acabaram devorados por animais nativos. Além do mais, a ilha infestou-se de piratas e de náufragos que caçavam javalis e bois selvagens para preparar à moda caribenha, ou seja, cortavam a carne em tiras e defumavam em grades sobre brasas. Era o processo "barbecu", apelidado pelos franceses de "boucan". Assim os "boucanier", caçadores de Hispaniola, ganharam o nome de bucaneiros.

Eles trocavam peles e carne seca com os navios que chegavam aos portos, por roupas, aguardente, tabaco, armas e munições. Anos depois um bando apoderou-se da ilha de Tortuga a nordeste de Hispaniola - nome dado não porque havia tartarugas(tortugas), mas pelo formato. A ilha virou ponto principal dos bucaneiros do Caribe.

Com o passar do tempo, perceberam que era mais lucrativo caçar no mar do que no mato. Navegavam em pequenos barcos com velas latinas e atacavam navios espanhóis. Em 1630, os espanhóis dominaram a colônia de bucaneiros e os expulsaram.

Alguns se reagruparam no interior da ilha e voltaram a atacar frotas espanholas.

Em 1635, um dos bucaneiros, o francês Pierre, Le Grand (Pedro, o Grande), costumava navegar pelo Mar do Caribe perto de Hispaniola. Pierre nascera em Dieppe, França, mas não era almirante, não tinha navios de guerra nem comandava milhares de homens. Sua ferramenta de trabalho era um cúter (barco de um mastro) tocado por 28 marujos sujos e famintos. Pierre vestia-se forma esfarrapada tal qual sua fiel corriola.

O cúter velejava à toa. Estavam desanimados, pois haviam saído da ilha de Tortuga havia algumas semanas, pensando em pilhar um navio espanhol, mas nada encontraram além de calmas águas azuis. Afastaram-se do litoral. Não tinham mapas exatos da região e o leme estava avariado. A coisa ficou preta como a bandeira dos piratas. Logo virariam caveiras brancas no meio dela. Durante dias balançaram de um lado para outro e agora estavam à deriva, impotentes. Só o vento amigo sabia para onde levá-los.

O cúter de Pierre Le Grand estava perdido perto das Ilhas de Caicos ou do Cabo Tiburón, à costa de Hispaniola. Os 28 homens, ou melhor, 29, estavam na pior quando viram velas no horizonte que logo identificaram como um galeão espanhol - provavelmente desgarrado. Pierre ordenou o ataque. Nada tinham a perder. Estavam quase mortos mesmo, mas acharam melhor esperar a noite.

Então emparelharam ao galeão. Era um barquinho e um barcão. Pierre era corajoso e astuto. Mandou seus homens fazerem buracos na popa do cúter para que afundasse, assim não poderiam voltar e lutariam bravamente para conquistar o galeão. Jogaram suas cordas e subiram pelo casco agarrando-se a qualquer coisa saliente até pularem ao convés. A sentinela não ouviu nada. O marujo do leme, muito menos. Enfim, ambos foram postos fora de combate e amordaçados. Uma parte dos bucaneiros foi para o porão; outra, junto com Pierre, munida de sabres e pistolas, foi para o castelo da popa. Viram o capitão espanhol e seus oficiais jogando baralho.

Ao perceber os bucaneiros, os espanhóis já estavam com pistolas apontadas para suas cabeças. Ouvindo o som da luta no porão, o capitão e os oficiais tentaram reagir, mas foram liquidados. Minutos depois o porão estava em silêncio - os bucaneiros haviam vencido!

Depois de jogarem os corpos ao mar e encarcerar os sobreviventes, os homens foram atrás de ouro e jóias. Acharam. Saltaram sobre as mercadorias como loucos. Sim, o tesouro era deles. Tudo foi dividido como de costume. A maior parte ficou com o capitão, que convenceu sua corriola a voltar com o galeão para Dieppe onde poderiam gastar o lucro. Era melhor do que em Port Royal, na Jamaica. Assim foi. E após deixar os prisioneiros numa praia de Hispaniola (não se sabe ao certo qual), seguiu para a França.

Lá, o audaz Pierre Le Grand administrou sua fortuna e abandonou a pilhagem. Nunca mais se ouviu falar dele. Estudiosos sugerem que pode ter mudado para o Canadá, pois seu nome aparece nos registros de imigração de Montreal no ano de 1653.


Monbars, o exterminador do passado

Nascido na região de Languedoc, França, Mombars tinha sangue de bucaneiro nas veias por parte de seu tio. Com a guerra entre Espanha e França, ele e o tio partem para as ilhas do Caribe e lá são atacados por um galeão espanhol. O momento é histórico, pois Monbars vai ganhar um apelido vitalício. Jovem e cheio de raiva por causa das notícias sobre a crueldade espanhola nas ilhas, Mombars atira-se ao combate com uma fúria tal que os marujos o tacham de "exterminador". O apelido ficou.

Com apenas 19 anos, lá estava ele no comando de uma expedição à Hispaniola contra os espanhóis, na qual o alto, magro e imponente bucaneiro se destacou por bravura em ação e por singeleza ao libertar os índios escravizados.

Mombars também ganhara a reputação de sóbrio. E com razão. Bebia só água, não jogava baralho nem dados. Por outro lado, era descuidado com a higiene pessoal e elegância. Ele e sua corriola usavam barbas fartas, bigodes eriçados, camisas rasgadas, coletes sujos de sangue e horríveis sapatos de couro de javali. A cara dos marujos era das mais ferozes. Tinham armas presas aos cintos, facas, sabres e bolsas de couro com pólvora e balas. Completavam o uniforme os chapéus furtados aos espanhóis.

Não se sabe se usavam tapa-olho, mas o uso e costumes dos bucaneiros foram registrados nas crônicas do holandês Alexandre Olivier Oexmelin. De escravo numa plantação nas Antilhas, chegou a médico de bucaneiros. Em 1678 publicou um livro com histórias desses excêntricos homens do mar.

Livros não devem ter sido atração para os brutais bucaneiros que, apesar de seguirem à risca as regras básicas da profissão, provavelmente nunca leram suas cláusulas sobre partilha, compensações e tratamento de prisioneiros.

Assim era Monbars. Sabia ler e conhecia as normas, mas quando capturava um navio espanhol, ordenava execução imediata da tripulação inteira, sem dó. O Exterminador ia às raias da crueldade nas torturas, chegava a arrancar os intestinos dos inimigos!

Há muito mistério na vida deste bucaneiro. Talvez nem tenha existido e suas aventuras devem fazer parte de uma lenda que se perde nos mares do passado.


Roque, o Brasileiro

Dizem alguns que seu nome era Rocha, mas ele não era pirata brasileiro, era holandês nascido em Groning. Ganhou o apelido por ter feito das costas do Brasil seu quartel general, por volta de 1641, para atacar navios espanhóis, no período da invasão holandesa.

Igualmente chamado de Roche Brasiliano, ele odiava os espanhóis de tal forma que mandou assar vários prisioneiros no espeto por se negarem a dar informações. Certa vez, mandou queimar dois colonos espanhóis por não lhe entregarem seus porcos. Quando não queimava, desmembrava-os de forma brutal. Também era conhecido por suas beberagens. Ficava violento ao ponto de atirar em quem não aceitasse beber com ele.

Roque era o terror dos navios mercantes. Quando não tinha o que fazer, ficava descansando em Port Royal, na Jamaica, um de seus portos favoritos. O estilo flibusteiro de seus homens era típico: entravam na cidade, embriagavam-se e saiam pelas ruas pegando tudo que gostavam, fossem jóias, tecidos, ou moças. Enquanto tinham dinheiro para gastar, eram tolerados. A população respirava aliviada quando partiam para novos saques no Mar do Caribe.

A vigilância espanhola era fraca e Roque fazia o que queria. Um de seus ataques foi à cidade de Campeche, no México. Uma vez dominada, Roque saiu num barco com dez homens para fazer reconhecimento da região. Os espanhóis o capturaram e o trancafiaram numa cela para ser enforcado. Roque, sabendo que ia morrer, escreveu uma carta ao prefeito da cidade dizendo que um bando de flibusteiros ia chegar a Campeche para se vingar brutalmente se ele e sua corriola fossem maltratados. O governador, apavorado, mandou libertá-los, mas exigiu dos flibusteiros a promessa de que não pilhariam mais.

Eles prometeram e foram liberados. Talvez entendessem que não podiam pilhar Campeche, pois não demorou e estava saqueando outros portos e pilhando navios espanhóis!

Diz outra fonte que os espanhóis o capturaram e o enviaram à Espanha, mas Roque fugiu, comprou um novo navio de seu colega flibusteiro François L'Ollonais (O Olonês), e passou a pilhar junto com Henry Morgan. Supõe-se que a carreira de pilhagens de Roque acabou em 1671.


capítulo 3
a pirataria ganha força

Christopher Mings nascido em Norfolk, Inglaterra, começou na marinha real como serviçal de cabine. Torna-se capitão em 1656 e, no comando da fragata Marston Moore, toma parte do ataque a Santa Marta, na Venezuela. Em outubro 1658, lá está ele escondido com sua frota na costa da América Central esperando a Frota Espanhola da Prata, mas deu azar, pois quando a frota chega, a maioria dos navios dele tinha ido à costa buscar água potável. Com apenas dois barcos (um era o Marston) Mings tenta passar pelos 29 navios espanhóis para confundi-los, mas o plano falhou.

Em 1659, a bordo do Marston, saqueia Cumana, Puerto Caballos e Coro, na Venezuela, faturando cerca de 300 mil libras. Na hora de dividir o saque, Mings se recusa dar a parte da coroa. Preso pelo governador da Jamaica é enviado à Inglaterra. O rei Charles II, que retornava ao poder, solta Mings que volta à Jamaica em 1662. Em outubro ataca Santiago de Cuba, detona a fortaleza e captura seis navios. Nessa operação participa o jovem aprendiz Henry Morgan e os experientes piratas holandeses Edward Mansveldt e Abraham Blauveldt.

Em fevereiro de 1663 Mings ocupa a Baía de Campeche e ataca San Francisco de Campeche - uma cidade que nunca tinha sido pilhada. O governo espanhol protesta e o rei Charles II proíbe ataques à região. Sem estímulo para ficar no Caribe, Mings volta à Inglaterra em 1665. Torna-se cavaleiro em 1666 quando morre na "Batalha dos Quatro Dias" contra os holandeses.


Bartolomeu não levou o que era seu!

Mesmo com sobrenome espanhol, Bartolomeu de la Cueva era português. Falava fluentemente espanhol, e português, claro. No Mar do Caribe desde 1660, pilhou a região de Campeche (México) entre 1666 e 1669. As costas de Cuba, atacou um galeão espanhol com seu pequeno barco de quatro canhões e trinta piratas. No final da luta, metade da corriola estava morta, mas conseguiu pôr as mãos em 70 mil peças de ouro e uma carga de cacau. Na fuga para a Jamaica, fortes ventos fazem os piratas desviar para Cuba. Ao tocar o cabo Santo Antônio, três navios espanhóis, em busca da carga roubada, o interceptam. Escapam e são forçados a aportar em Campeche onde Bartolomeu (persona non grata) é reconhecido pelas autoridades e aprisionado num barco espanhol.

Dentro daquela gaiola de madeira, ele ouve os marujos conversando sobre seu enforcamento no convés na manhã seguinte. Um único soldado fica vigiando-o. Bartolomeu tem uma faca escondida. Espera anoitecer, escapa da gaiola e degola o vigia. Não sabe nadar bem, então pega dois barris de rum vazios e pula com eles ao mar. Assim flutua até a praia e foge para floresta onde fica dias escondido.

Soldados espanhóis farejam o local. Nada encontram e desaparecem. Bartolomeu sobrevive comendo mariscos e de frutas do mato. Anda 190 quilômetros pela selva e chega ao Golfo Triste (Yucatán) onde avista um navio ancorado. Era um barco pirata com 20 homens. Não foi difícil convencê-los a voltar a Campeche e se vingar dos espanhóis. Chegando à baía, assaltam do navio-prisão de onde ele fugira, liquidam os homens e levam o navio para a Jamaica. Perto da Ilha da Juventude, ao largo de Cuba, o barco naufraga e perdem a carga. Bartolomeu e os sobreviventes passam para o outro navio, o Port Royal.

Nada mais se sabe sobre sua vida. Alexandre Olivier Oexmelin registrou em "Piratas da América" que as pilhagens a barcos espanhóis não lhe renderam muito lucro, e que "morreu na maior das misérias do mundo". Mas sabe-se que Bartolomeu, o Português, criou o primeiro "Código da Pirataria", usado depois por piratas em todo o Caribe.


O implacável Olonês

Jean-David Nau, também conhecido por François L'Olonnais, era um bucaneiro francês que pilhou o Caribe por volta de 1660. Oexmelin, em seu livro: "Piratas na América", dedica três capítulos a ele. O Olonês nasceu na cidade de Les Sables-d'Olonne em 1635 (daí o apelido) e com 20 anos chegou ao Caribe como criado. Em 1660, desempregado, ficou vagando pelas ilhas até chegar a São Domingos onde abraçou rentável a profissão de bucaneiro.

Em 1665 a ilha de Tortuga era uma colônia francesa próspera. Os bucaneiros tinham se organizado e enviavam expedições para pilhar terras espanholas. A França queria tirar a supremacia naval da Inglaterra e encorajava a Cia. Bucaneiros & Flibusteiros de Tortuga, pois reconhecia seu talento. O governador tinha até dado uma carta de corso ao Olonês para atacar navios espanhóis, tarefa que honrou a contento e tornou-o inesquecível tal sua crueldade no tratamento dos prisioneiros.

Essa neurose do Olonês tem uma história. Certa vez naufragou perto de Campeche, no México. Um bando de soldados espanhóis atacou seus homens que tentavam alcançar a praia e os degolaram. O Olonês se safou banhando-se de sangue e escondendo-se entre os mortos. Ao anoitecer fugiu para o mato e voltou ao porto de Campeche de onde escapou num barco enquanto os inimigos festejavam sua morte. O Olonês juntou um novo bando, capturou um refém de Havana e exigiu um resgate das autoridades espanholas. O governador enviou um navio para acabar com a corriola do olonês, mas ele capturou e decapitou a tripulação inteira exceto um que levou a seguinte mensagem ao governador: "Daqui pra frente não mais perdoarei nenhum espanhol, seja ele quem for".

A fama do Olonês crescia. Em 1667 saiu da ilha de Tortuga com uma frota de oito navios e 600 bucaneiros para saquear Maracaibo, na Venezuela. No meio do caminho cruzou com um navio espanhol. Após a captura, pilhou a carga de cacau, pedras preciosas e 40 mil peças de ouro. Não contente ainda, seguiu e atacou Maracaibo - o porto espanhol mais pilhado na época. Os bucaneiros dominaram o forte e a cidade desgraçando os poucos habitantes que não lograram fugir para o interior. Aqueles que não informavam onde estava escondido o tesouro, o Olonês matava com as próprias mãos.

A corja passa o tempo embebedando-se de rum e estuprando. Sem nada para fazer, destroem uma guarnição de 500 soldados em Gibraltar, na baía de Maracaibo, e ficam ali exigindo um resgate de dez mil peças de ouro para sair. Satisfeitos com o ouro voltam a Maracaibo e pedem o dobro aos habitantes já esgotados de tanta tortura. Enfim, vão embora, mas antes levam 850 cabeças de gado.

Por volta de 1671, o Olonês continua sua rota de morte e saque. Os bucaneiros pilham Porto Cavallo, na Venezuela, e na fuga são emboscados por espanhóis. Muitos morrem. O Olonês escapa com poucos homens para o Golfo das Honduras tentando se embrenhar no mato, mas são aprisionados pelos índios Kuna.

Como "não há mal que sempre dure", os índios o executam arrancando seus membros um por um, depois jogam na fogueira e espalham suas cinzas ao vento.


Henry Morgan pilha Porto Belo

Porto Belo fica na pantanosa costa leste do istmo de Panamá. Em 1668 sua população era de 3 mil habitantes. O importante porto para o comércio local era defendido por vários fortes. Foi às costas de Porto Belo que o almirante Francis Drake, sonhando pilhar, morreu de disenteria em janeiro de 1596.

Em 1665 uma frota inglesa havia arrebatado a Jamaica da Espanha e a vila de Port Royal tornou-se base de assalto para piratas e corsários. Um deles era Henry Morgan, que nascera no País de Gales em 1635, mas fizera curso de especialização no Mar do Caribe, sob a orientação do holandês Eduardo Mansveldt. Quando seu professor morreu, numa pilhagem à Nicarágua, Henry Morgan assumiu aquela poderosa frota.

No Verão de 1668, com uma carta de corso do governador da Jamaica, Morgan zarpou da Costa Rica com nove navios e 460 homens para pilhar Porto Belo. Era um porto muito bem defendido e tinha mais soldados do que ele. Mas Morgan estava confiante, e encorajou seus homens com o seguinte argumento: "Quanto menos sobreviverem, maior será o quinhão de cada um!".

Malandro velho, Morgan não ia se arriscar num ataque frontal a uma cidade como aquela. Resolveu desembarcar numa praia a uns quarenta quilômetros dali com botes. Os navios ficariam fundeados com poucos vigias. Tudo foi feito à noite. Em seguida os homens atravessaram os pântanos e chegaram às cercanias da rica cidade.

Havia um forte tão afastado do mar que as sentinelas espanholas nem imaginaram um ataque. Estavam relaxados e apenas preocupados com diversão. Uns olhavam os pântanos, outros as estrelas, até que uma faca nas costas os fez olhar para uma mordaça. Os homens de Morgan os fizeram levar até o chefe que, suando as bicas, revelou tudo sobre as defesas da cidade. Em seguida voltam ao forte e começam a escalar as muralhas antes da guarnição suspeitar da invasão. Porém, um alerta põe os espanhóis em ação, que abrem fogo contra a corja corsária. Mas os sabres são mais rápidos no combate corpo a corpo e liquidam metade da guarnição espanhola. Antes da fuga, os corsários libertam onze prisioneiros ingleses, e explodem o forte. O próximo passo é Porto Belo e pelo caminho vão arrasando outros fortes.

As ruas estavam apinhadas de gente correndo com seus valores em todas as direções. Os corsários lhe corriam atrás, matando, violando e pilhando sem dó.

O governador e seus soldados não se renderam, mantinham a posição a tiros de mosquetes sobre os corsários que avançavam sedentos de sangue e riquezas. De repente perceberam que não tinham canhões para derrubar o último forte. Morgan cria uma estratégia. Manda um grupo de freiras com escadas improvisadas até as muralhas do forte. Atrás delas vão os corsários com suas pistolas e explosivos. Os espanhóis atiram em tudo que se move. Várias freiras morrem. Os corsários levantam as escadas sob os corpos, sobem e invadem o forte.

Em minutos os espanhóis baixam armas enquanto o governador combate sozinho. Enfim, cai valentemente e o forte passa às mãos do novo chefe: Henry Morgan. Após a contagem, perdera apenas 18 homens.

A pilhagem tem início. Em um mês os corsários embolsam 250 mil peças de ouro, centenas de baixelas de prata, fardos de seda e 300 escravos negros. Com essa rica carga voltam a Port Royal, na Jamaica.

O que os corsários fizeram com a parte deles já sabemos, o que não sabemos é quanto tempo levaram para gastar tudo.

Meses se passaram. Henry Morgan agora estava aportado na costa sul da ilha de Hispaniola, no Mar do Caribe, e jantava a bordo do Oxford com seus oficiais. Conversavam sobre o próximo ataque: Cartagena! Antes de levantar o copo de rum para sentir o aroma e comemorar, a mesa sacode com um tranco seguido de uma violenta explosão que arrebenta o navio. Morgan, jogado ao mar, vê dezenas marujos nadando até a praia. A fumaça sobe ao céu junto com as almas dos corsários mortos. A popa do Oxford afunda lentamente. Morgan lamenta e segue seu destino nadando até terra firme.

Os planos de pilhar Cartagena estavam molhados. A cidade colombiana era fortemente defendida, ele perdera um bom barco e 200 bons homens. Era melhor mudar os planos de pilhagem para Maracaíbo, na Venezuela.


Henry Morgan pilha Maracaíbo

Morgan zarpa na Primavera de 1669, se apodera do forte na entrada do lago e saqueia Maracaíbo e Gibraltar. O estilo é o de sempre: espalham-se pelas ruas desertas pilhando casas abandonadas, torturando habitantes, violentando e matando. No final da empreitada contam os despojos e sorriem mostrando os dentes estragados.

Um mês depois zarpam com o fruto do furto e encontram três navios espanhóis no largo. Morgan, astuto, sabendo que não era páreo para aquela força, envia ao almirante espanhol uma mensagem ameaçando matar os "reféns" em seu poder se ele não pagasse um resgate de 20 mil peças de ouro. O almirante recusa e responde que o deixaria passar se devolvessem todo ouro, prata, jóias, prisioneiros e escravos que furtaram em Maracaíbo.

Morgan ficou enrolando o espanhol numa negociação até a noite para dar tempo de seus homens montarem um brulote (pequeno barco cheio de explosivos, alcatrão, enxofre e betume). Para não revelar que faltavam marujos, desviados para essa tarefa, colocam bonecos de madeira e cabeças de pano com lenços e chapéus junto aos canhões no convés dos navios. De manhã, com o barco-bomba pronto, os marujos manobram até o navio espanhol. O almirante em vez de meter fogo logo neles, mandou renderem-se. Os corsários ouviram a ordem com desdém e saltaram na água. O último acendeu a mecha fatal.

A explosão espalhou um grande incêndio pelo barco espanhol onde os oficiais e marujos foram engolidos pela chamas. Os outros barcos tentaram fugir. Um encalhou nos corais, e o outro se rendeu. Enfim, Henry Morgan foi para Port Royal com duas cargas extras.

O corsário inglês não dava descanso. Um ano depois sua frota de 35 navios (27 ingleses, 8 franceses) e 1800 homens, estava fundeada ao largo da ilha de Santa Catalina a 300 milhas ao norte do Panamá. A defesa espanhola era irrisória. O governador da pequena ilha, temendo uma arrasadora chuva de chumbo, enviou uma mensagem a Morgan com termos de rendição; mas propunha um pacto, ou seja: a fim de não transparecer que faltara com o dever de defender a cidade, pedia para Morgan simular um combate. Assim foi. Durante toda a noite ouviram-se disparos de canhão - provavelmente de pólvora seca, pois ao dominar o porto pela manhã não havia mortos nem feridos de ambos os lados.

Este saque insólito não era o mais importante nos planos de Morgan que, a bordo do Satisfaction, já vislumbrava a cidade de Panamá, lá do outro lado, na costa do Pacífico perto do canal.


Henry Morgan pilha Panamá

Saindo da ilha de Santa Catalina (hoje Ilha de Providência), Morgan e seus 35 navios chegam em 1671 ao rio Chagres - que faz parte do Canal do Panamá e deságua no Mar do Caribe -, onde os corsários desembarcam e começam a marchar. Era uma questão de honra para Morgan invadir o Panamá. O governador, Agustin Bracamonte, o desafiara a tentar, pois o assassino inglês aprenderia uma lição em suas mãos.

Um grupo de corsários chega e toma a fortaleza de São Lourenço ao lado do rio. Isso ceifa a vida de 200 marujos e gera dezenas de feridos. Eles continuam a marcha pela selva por 70 quilômetros. No fim, a maioria dos homens mal podia caminhar. O calor era infernal. A malária e a disenteria faziam mais vítimas.

Morgan achava que tribos indígenas ajudariam com víveres e água potável. Mas nada disso aconteceu. Depois de seis dias, os homens já estavam comendo o couro dos cintos. A sede não podia ser saciada, pois as águas eram salobras. Foram salvos por uma plantação de milho.

Após restaurar as forças, prosseguem a marcha. Enfim, uma chuvarada refresca os ânimos. Horas depois, com o céu claro, avistam uma faixa azulada. E o oceano, e do outro lado um vale com bois pastando. Os corsários saltam sobre eles e matam vários. Preparam um grande churrasco e montam acampamento.

No dia seguinte seguem marcha e avistam a povoação. Os espanhóis já estavam preparados. A cinco quilômetros da cidade encontraram-na defendida por 500 soldados a cavalo e 2 mil a pé somados a escravos e civis voluntários. O ataque frontal da cavalaria, chefiada por Don Juan Perez de Guzman, foi neutralizado pela certeira artilharia de mosquetes dos corsários. A manada de bois selvagens que reforçava a infantaria fica presa no terreno pantanoso. Os tiros aterrorizam os animais que, em vez de avançar sobre os assaltantes, voltam para as linhas espanholas, desmantelando as defesas. Logo após segue sangrenta luta corpo a corpo com a infantaria espanhola. Os corsários vencem e correm sob o fogo de canhões fustigando-lhes a carcaça. Cheios de energia avançam e tomam a fortaleza.

Os espanhóis fogem para o interior da cidade, mas antes incendeiam tudo. O fogo queima o depósito de seda e especiarias. Os corsários passam o tempo torturando civis para saber onde estão os tesouros na cidade e vão saqueando tudo o que encontram enquanto esvaziam garrafas de rum. Porém, a parte mais polpuda - milhares de moedas de prata de ouro - estava em segurança nos porões de um galeão espanhol que havia zarpado horas antes.

Furiosos, os corsários ficam por três semanas na cidade torturando os habitantes para arrancar-lhes informação. Conseguem um bom e rico despojo. A cidade vira um monte de ruínas. Começam a viagem de regresso pela selva. Morgan e alguns homens tomam caminho oposto.

Bem longe, quando os corsários fazem a partilha dos sacos de ouro, peças de prata e jóias descobrem que sobrou pouco para cada um. Descobrem mais uma coisa: Morgan tinha sumido com a maior parte da pilhagem.



Morgan é pilhado de sua pirataria

Henry Morgan ainda não pensava em se aposentar quando Inglaterra e Espanha em 1668 firmam paz com o Tratado de Madrid. A Espanha reconhece as possessões da Inglaterra no Mar do Caribe que toma posse formal da Jamaica e das Ilhas Cayman.

Charles II Stuart da Inglaterra, a pedido de Carlos II, rei da Espanha, chama Morgan para explicar sua pilhagem ilegal ao Panamá e manda prendê-lo em Londres, mas tudo acaba em pizza, pois o rei, em reconhecimento às suas contribuições à coroa inglesa, o liberta. Além disso, o torna cavaleiro e tenente-governador da Jamaica. Morgan volta à sua ilha amada, mas sabe como é: uma vez corsário sempre corsário! Sua vida era das mais devassas. Notícias chegam a Londres de que faz conchavos com piratas, mas Morgan, para se dizer digno (ou despistar), transforma-se em caçador de piratas.

Mostrando-se imparcial, pois bandeira preta de pirata não pertence a país nenhum, Morgan apodera-se de um navio holandês, cheia de ingleses e os entrega às autoridades de Cartagena, na Venezuela.

Morgan fica nessa de controlar atividades piratas na região até morrer aos 53 anos. Os cidadãos de Port Royal fazem-lhe um admirável funeral em 25 de agosto de 1688.

Talvez a justiça divina não tenha perdoado Port Royal pelos pêsames ao famoso pirata, pois em 1692 um terremoto matou 20 mil pessoas e parte da cidade desabou no mar.


Mudando a rota para o Pacífico

Em 1680 quatro galeões espanhóis aguardavam ao largo da costa do Pacífico em frente ao istmo de Darién (Panamá). Os marujos espanhóis tinham saído em três barcaças rumo a uma estranha flotilha de canoas fora da baía. As barcaças espanholas tinham vários canhões e 200 homens bem armados.

Havia boatos de que piratas ingleses tinham atravessado o istmo de Panamá para atacar a cidade, e as barcaças estavam ali para impedir. O almirante espanhol ao ver o suposto inimigo, desdenhou daquelas canoas que não comportavam mais do que uma dúzia de homens armados.

Entre essa dúzia estava o pirata John Coxon, que olhava as barcaças espanholas se aproximando. Lembrava o que tinha passado semanas antes quando chegara a Porto Belo com 300 piratas. Pilharam e fugiram pela selva onde muitos homens morreram. Agora eram apenas 68 cara a cara com um inimigo esmagadoramente superior. Sua esperança estava depositada nos canhões e nos sabres.

Deu-se o combate. Com sabres em punho os piratas saltaram sobre os espanhóis e na luta corpo a corpo levavam a melhor. Após cinco horas de refrega, o furioso bando fedorento venceu. Centenas de espanhóis jaziam no fundo das barcaças, inclusive o almirante. Os que se rederam foram levados para os galeões fundeados.

A carga foi amontoada a bordo do galeão Trinidad, que deslocava 400 toneladas, e agora era o navio-capitânia dos piratas. Os outros três navios foram incendiados. Talvez tenham escolhido o Trinidad por que foi o navio que, cheio de ouro, fugiu do porto quando Henry Morgan pilhou o Panamá.

O Pacífico mostrava-se rentável. Há algum tempo o Mar do Caribe não era mais a região predileta dos piratas. A França e a Inglaterra haviam decidido pela paz naquelas águas. Por outro lado, sem trocadilho, galeões espanhóis vindos de Manila (Filipinas) singravam o Pacífico. Sendo assim, piratas passarem a rapinar ao longo da costa ocidental do continente sul-americano em busca de seu produto principal: ouro!


Piratagem pelos Mares do Sul

As proezas dos corajosos mestres da pilhagem vistas até aqui elevaram seus nomes no grande ranking do Caribe. Mas piratas morrem, e como por encanto, nascem outros piores!

Bartholomew Sharp, nascido em 1650 na Inglaterra, tinha navegado com John Coxon e aprendido (e apreendido) muita coisa com o mestre. Tudo o que sabia do ofício, ensinou ao garoto William Dampier, que navegava agora com ele.

No final de 1680, ao desembarcar na ilha de Juan Fernandez (perto de Santiago do Chile), vindo do cabo Horn(extremo sul da América), os piratas não haviam recebido nada das mil libras que Sharp prometera a cada um. Em janeiro de 1681, após algumas tempestades e derrotas, os homens revoltados depõem Sharp e elegem John Watling como seu novo capitão. Watling era pirata experiente, tinha usado a ilha de São Salvador como base para suas pilhagens e não dava mole para a marujada, sendo até cruel em certos momentos. Três semanas depois, o assalto ao porto de Arica (Chile) falha, e Watling morre no combate. Sharp retoma o comando. Os piratas continuaram a viagem ao redor da América do Sul subindo até o Caribe saqueando várias cidades. Ali capturam o galeão San Pedro que vinha do Chile cheio de barris de vinho, pólvora e 37 mil peças de ouro. Finalmente a marujada recebe sua parte, ou seja: 245 peças cada um.

Os conflitos renascem. Um grupo de 44 piratas entre os quais estavam Lionel Wafer e William Dampier, decide voltar ao Caribe atravessando o istmo do Panamá. O outro grupo de 70 piratas, fiéis a Sharp, quer ir para o Norte.

O grupo de Wafer & Dampier segue sua rota e capturam dois navios espanhóis com 700 lingotes de prata vindos do Peru, mas os piratas desconfiados de que as peças eram de estanho, jogam tudo ao mar. Apenas um pirata guardou o seu para fundir e fazer balas. Quando resolveu vender, descobriu o engano. Aí já era!


A sorte danada de Lionel Wafer

Seis meses depois, Wafer com o joelho detonado e gemendo de dor caminhava pela selva tropical do Panamá.Sendo médico-cirurgião tinha dado um jeito no joelho, mas não o suficiente. Vaguearam perdidos até acharem uma aldeia da tribo dos Kuna.

Apesar de os índios aplicarem uma pasta feita de ervas no joelho de Wafer, não pereciam felizes com a presença dos europeus. Comida? Davam-lhes apenas bananas verdes. Wafer achava que ia ter o mesmo fim do Olonês: esquartejado e assado. Ao longe ele via guerreiros juntando ramos e folhas secas. A dedução era simples: uma fogueira!

Pela manhã, o chefe da tribo vai até Wafer, que pensa no pior, mas ele faz sinais e deixa claro que os europeus têm de ir embora. E mais: levariam um guia para ajudá-los no caminho. Se os índios estavam felizes por se livrarem de "personas non gratas", os europeus nem pensaram duas vezes. Saíram rápido dali.

Wafer ainda mancava. Após alguns dias de marcha, quando os piratas pensam que encontrariam companheiros ingleses para voltar ao Caribe, os guias indígenas os abandonam à sua sorte. Eles continuam a caminhar segundo seus instintos, comendo frutos do mato, bebendo água de rio. Aí têm a idéia de construir uma jangada e se atiram às águas visando chegar ao mar. Mas uma tempestade os leva à margem de outra aldeia indígena. Fracos e sem esperança, aguardam pelo pior. Contrariando a expectativa, os índios são gentis. Wafer percebe que a esposa favorita do chefe está doente e, sendo médico, a cura. Tachado de milagreiro, os índios lhe dão maior acolhida. Com o tempo, Wafer consegue explicar que quer chegar ao istmo do Panamá onde amigos os esperam. O próprio chefe se dispõe levá-lo à costa onde encontram um barco pirata francês (1684). Antes de zarpar, Wafer promete voltar para se casar a irmã do chefe e trazer cachorros ingleses para ele. Não o fez!


Uma briga de cães do mar

Edward Davis, capitão inglês que comandava o Bachelor's Delight (alegria de solteiro), estava inconsolável, pois não conseguira capturar a frota dos tesouros que vinha de Lima, Peru. Tinha alinhado seus navios à frente de catorze navios espanhóis armados com poderosos canhões. Ele tinha apenas 36 bombardas, mil homens (600 ingleses e 400 franceses) e isso não foi páreo para os 2500 soldados espanhóis.

Davis estava indignado com os franceses que no início do combate mantiveram os navios afastados, quando podiam ser mais contundentes. Em suma: os navios ingleses ficaram sob fogo cerrado do inimigo, com morte de muitos marujos. Os navios espanhóis escaparam.

Agora Davis planejava ataques-surpresa no continente para levantar sua moral, mas sem ajuda dos franceses.

Do lado francês, o capitão Francis Grognier, estava furioso, pois o plano tinha sido frouxamente executado pelo arrogante Edward Davis e seus 36 canhões. O inglês foi o responsável pela derrota. Grognier fez de tudo para ajudá-lo, mas ao ver os tesouros escapando, perdeu o interesse de sair atrás e sacrificar seus dois navios e a marujada em troca de nada. Pelo menos suas forças estavam inteiras e ele já pensava em tentar um ataque às ilhas. Nesse caso, comandaria tudo e arcaria sozinho com o resultado.

Os franceses não eram o supra-sumo de virtudes - pensava ele -, mas no caso de uma pilhagem rentável usariam a força bruta sim, tal como os selvagens ingleses, mas não queimaram igrejas de modo algum.

William Dampier, a bordo do Delight, dá razão aos ingleses e critica a falta de cooperação dos franceses. Raveneau de Lussan concorda com o ponto de vista francês e alega que os ingleses foram os culpados.

Parecia não haver consenso entre os aliados, fato visto com grande regozijo pelos espanhóis.

Por seu lado, Edward Davis retoma a honra pirata e sai pilhando as costas da América do Sul. Com William Knight ele ataca Sana, no Peru, e levam 25 mil libras em jóias e prata (1686). Em outros ataques, libertam escravos africanos de Paita, matam padres e oficiais em Pisco onde pegam um resgate 5 mil libras. Ao chegar à ilha Juan Fernandez, ele e Knight dividem os espólios com a marujada (cada um recebe 1.150 libras). Junto com Lussan e Knight, Davis vai para o Caribe e pilha as costas espanholas. Em 1687, Davis pilha 10 mil libras em Arica, Chile. Ali fica sabendo pelos prisioneiros que os espanhóis planejam enviar uma frota ao Peru atrás do capitão Pierre le Picard. Davis chega a Guayaquil antes e ajuda Picard derrotar a frota. O francês divide 50 mil libras com Davis. Na Primavera de 1688 saqueia a cidade de Guayaquil e segue para o Caribe. Nessa época o rei Jaime II da Inglaterra havia proclamado uma anistia geral para todos os piratas que quisessem se entregar. Os malandros Edward Davis e Lionel Wafer que acabavam de se encontrar, não acreditam nisso e rapidamente içam vela para a Virgínia (EUA), mas logo são presos. Quando todas as rotas os conduziam a forca, são libertados. Davis volta à Inglaterra em 1690 e consegue obter seus bens e propriedades de volta.

O capitão Francis Grognier não teve tanta sorte. Apesar de querer pilhar sozinho, muda de ideia e faz sociedade com um pirata inglês chamado Townley. Ambos saem em atividades rapineiras, roubando e destruindo o Panamá e as costas da América do Sul, onde saqueiam também Guayaquil em 1687 levando 70 mil peças de ouro, muita prata, pérolas e ainda um resgate de 20 mil peças. Em 1667 Grognier morre numa briga de rua e Townley morre em combate perto do Panamá. Suas corriolas de unem ao pirata francês Pierre le Picard (1624-1679) que participou de saques com o Olonês e Henry Morgan em Maracaibo e Panamá.

Quando William Dampier separou-se de Edward Davis, uniu-se ao capitão Charles Swan que comandava o Cygnet. Swan não sabia comandar. Seu ataque à cidade de Santa Pecaque, México, em fevereiro de 1686, foi um fiasco. Na fuga pela floresta seus homens foram atacados por espanhóis e 54 piratas morreram. Quando ele chegou ao local com reforços, já era! Os espanhóis haviam desaparecido.

Vendo que nada dava certo, Swan decide abandonar a pirataria e segue com Dampier para a Austrália, mas morre ao largo das Filipinas. William Dampier prossegue viagem até o final. Ele gostava de aventuras e as registrava num diário. Deu a volta ao Mundo e velejou por três anos pelos mares tropicais. As narrativas estão no livro "Nova Viagem ao Redor do Mundo", que lhe rendeu dinheiro e fama.

Raveneau de Lussan, pirata francês, participou do ataque anglo-francês que pilhou Guayaquil, Equador, e depois formou um bando que rapinava a costa de Honduras (Pacífico) e o Mar do Caribe. Enquanto os piratas comuns vendiam suas peças de ouro, Lussan trocava por pérolas e pedras preciosas. Como era muita coisa acumulada, dividiu-a em lotes e deixou com amigos para pegar mais tarde. Porém, a amizade foi eclipsada pela ganância. Os mui-amigos fugiram com as riquezas pela selva onde os espanhóis os mataram. No entanto, isso salvou a vida de Lussan, pois perseguido pelos espanhóis só conseguiu alcançar São Domingos vivo porque estava sem "bagagens". Essas e outras histórias estão em seu "Diário de uma Viagem aos Mares do Sul, com Flibusteiros Americanos".

Mas William Dampier era irrequieto e aventureiro. De volta à ativa, agora era piloto do Duke, navio de Woods Rogers, um jovem corsário inglês muito competente que tinha uma carta de corso para atacar (e pilhar) navios inimigos no Pacífico sul. Pilhagem oficial: a Inglaterra estava em guerra com a Espanha e a França desde 1702.

Dampier tinha sido amigo do pai de Rogers e agora se encontrava no meio de sua segunda volta ao mundo. Dampier e Rogers zarparam de Bristol em 10 de agosto de 1708 e em janeiro de 1709 estavam dobrando o Cabo Horn com o Duke (320 toneladas) e o Duchess (260 toneladas). A natureza estava conta eles. Ventos e tempestade levantavam e enormes ondas geladas sobre os barcos. Dampier via aquilo e lembrava que entrara nessa profissão meio a contra gosto. Seu negócio era explorar, mas para isso tinha de ajudar Rogers como navegador. E ajudou, pois os navios conseguiram sair da turbulência e alcançar as águas calmas do Pacífico. Duas semanas depois os barcos fundearam em Juan Fernandez, Chile, onde pretendiam abastecer e fazer reparos. Além, disso a maruja sofria de escorbuto pela falta de vitamina C (legumes e frutas frescas). Era o momento de recuperar as forças.

Da ponte do Duke, Rogers e Dampier viram um clarão. Podia ser um navio francês na baía. Então Rogers resolveu esperar até a manhã seguinte. De madrugada, não vendo nenhum navio inimigo à vista, Rogers mandou descer um bote com marujos rumo à praia calma. Após algumas horas, os marujos voltaram ao Duke. Para a surpresa de Rogers havia um homem a mais.

A princípio pensaram que era louco. Cabelos arrepiados, barba longa, rosto cheio de rugas e expressão assustada. Roupa esfarrapada e um gorro de pele de cabra na cabeça. Falava uma língua incompreensível que chamou atenção de Dampier. Não era velho. Parecia ter uns 30 anos e lhe era familiar. Quando o homem falou de novo, Dampier reconheceu o dialeto escocês. Agarrou o náufrago pelos braços e olhando-o bem de perto disse: Alexander Selkirk! O homem levou um susto e seus olhos brilharam. Alexander Selkirk (Selcraig) tinha servido como oficial a bordo do navio corsário Cinque Ports numa expedição a qual Dampier estava a bordo do Saint George. Selkirk se desentendera com o capitão Thomas Stradling, alegando que o Cinque Ports não era adequado a navegação e outras coisinhas náuticas. Após uma violenta discussão Selkirk pedira para descer na ilha Juan Fernandez. Saindo por vontade própria não seria considerado desertor.

O capitão Stradling concordou e Selkirk ficou lá com seus livros, um facão, um machado, um fuzil, pólvora e um baú com roupas, pensando passar algumas semanas na ilha e depois ser resgatado pelo Saint Georges que vinha alguns dias atrás do Cinque Ports. Na verdade acabou ficando mais de quatro anos, pois o Saint Georges com Dampier não passou. Durante esse período não conversou com ninguém, por isso a dificuldade de falar. Sobreviveu tomando água de poças, comendo mariscos, cabras, legumes e frutos do mato. Abrigara-se em cabanas pequenas e práticas. Mas agora estava diante dos primeiros seres semelhantes em 52 meses. Aos poucos dominou a fala e logo pode contar sua história que foi registrada no diário de bordo de Rogers. Por exemplo: Quando a munição acabou, caçava cabras correndo atrás delas. Temperava a carne com pimentões e pimenta nativa, e compunha seus pratos com couve fresca. Achou muitos gatos e cabras na ilha, fugidos de barcos ali fundeados, que depois domesticou.

Integrado à frota, Selkirk chegou à Inglaterra em outubro de 1711. Sua vivência foi publicada pelo jornalista Richard Steele, usando o diário de Woodes Rogers como base. Outros estudiosos alegam que ele mesmo contou a história a Steele. Em 1719, Daniel Defoe, inspirado nesse artigo, publicou "A Vida e as Surpreendentes Aventuras de Robinson Crusoé". Selkirk morreu no mar em 13 de dezembro de 1721.


capítulo 4
a pirataria a francesa,
s'il vouz plait

A Guerra dos Nove Anos, também chamada de Guerra da Liga de Augsburgo, foi um conflito em que a França se opôs à Liga de Augsburgo. O objetivo da liga era frear a expansão francesa no Reno. Em 1689, com a entrada da Inglaterra na briga, ganhou o nome de Guerra da Grande Aliança. O rei inglês Guilherme III entrou na guerra para evitar o apoio francês a uma possível volta ao trono inglês de Jaime II (Stuart), derrubado com a Revolução Gloriosa (1685-1689). O que se seguiu foi uma série de combates em terra e no mar. Ah, o mar, ambiente propício para a marinha francesa medir forças com a inglesa.

Em maio de 1689, um comboio de navios mercantes franceses navegava pelo Canal da Mancha escoltado por dois barcos: o Les Jeux (Os Jogos) e o La Railleuse (A Zombaria). Um era comandado por Jean Bart, corajoso capitão de 2,04 de altura, cuja família tinha se dedicado à guerra de corso, aliás, uma honrosa profissão em Dunquerque, onde nascera. O outro era comandado pelo capitão-tenente Claude de Forbin, nobre de Provença. Eram os dois capitães corsários mais famosos da França.

Dois navios de guerra ingleses estavam posicionadospara atacar o comboio. Jean Bart resolve encarar o combate desdenhando a superior potência de fogo do adversário. Jean pensava nos 20 navios carregados de pólvora que deveriam chegar com segurança a Brest - seu porto de destino na França (ao sul de Plymouth, na Inglaterra).

Jean Bart, quando tinha uns 12 anos, servira à marinha holandesa como grumete de um navio patrulha. Aos 16 anos serviu sob as ordens do almirante holandês Michel de Ruyter; mas, quando a guerra entre a França (de Louis XTV) e as Províncias Unidas (Holanda) começou, em 1672, Bart serviu como corsário à França. Destacou-se no Mediterrâneo como oficial irregular, pois sua origem humilde não lhe permitiu um comando regular na marinha, mas pelo seu grande sucesso tornou-se tenente em 1679, depois capitão e então almirante.

Agora, em 1689, ele estava diante de um momento dramático. Seu plano era deixar um navio inglês sair ao encalço do comboio, enquanto seus navios abordariam o Nonsuch, que era maior. Quando ia pô-lo em prática, o vento virou bruscamente e impediu os barcos franceses de fustigar o Nonsuch, deixando-os sob a mira dos canhões ingleses. Um grande estouro atingiu o Les Jeux. Em meio à fumaceira, os franceses responderam à altura. A batalha parecia equilibrada quando Jean Bart percebeu que seu comboio estava longe da encrenca e seus dois barcos precisavam manter os ingleses fora de alcance.

Por três horas a luta prosseguiu. Claude de Forbin estava ferido, mas continuava no combate. Um tiro certeiro estraçalhou o mastro do Railleuse que despencou. O castelo de proa estava em chamas e os canhões silenciados. Dezenas de marujos feridos gemiam nos convés. Jean Bart também estava ferido e sua marujada não tinha mais condições lutar. Só lhes restava a rendição.

Os oficiais ingleses estavam mortos e dezenas de marujos jaziam nos convés ou boiavam sem vida no mar. Os que ainda tinham forças resgataram os corsários franceses.

Claude de Forbin e Jean Bart foram para bordo do Nonsuch. Forbin teve de vestir calças e camisola de marujo enquanto Bart pôde manter seu uniforme. Isso gerou certo incômodo em Forbin.

A desavença entre os dois era antiga. Além da diferença de seis anos entre eles, Forbin nascera em Gardanne, na Provença, sua família era de Marselha, e ele tinha tido uma educação díspar da de Bart. Servira fora do país, na corte do Sião, por dois anos e era general do exército siamês, governador de Bangkok e grande almirante do Sião. Sendo valente e vaidoso, Forbin era respeitado, mas não tinha amigos. Por seu lado, Bart, apesar de tosco, era franco e estava sempre junto de gente simples.

Forbin não era o supra-sumo de caráter. A reputação crescente de Jean Bart estava-lhe atravessada. Sempre que podia, rebaixava o companheiro em detrimento de seus méritos. Mas o destino os punha agora à prova da verdade e suas rivalidades.

O Nonsuch chegou ao porto de Plymouth com os dois famosos corsários franceses. Em seguida foram convidados para um suntuoso jantar com saboroso vinho. Jean Bart sabia falar holandês e inglês. Ele conversava animadamente com os amáveis anfitriões enquanto que o desconfiado Forbin enchia sua mente de inseguranças. Terminado jantar, os dois franceses foram encarcerados numa sala.

Não entenderam bem o que acontecera, mas fugir dali era o pensamento reinante. Havia grades de ferro nas janelas e guardas armados na porta. Junto com eles estavam dois grumetes de Dunquerque.

Os capitães enjaulados podiam se comunicar com outros prisioneiros franceses em outras celas. Trocavam informações. Ficaram assim por dois dias. Então chegou a Plymouth um primo de Jean Bart, que estava servindo numa frota espanhola, na época aliada à Inglaterra. Quando soube que seu parente estava preso, procurou um médico e propôs certa quantia em dinheiro para levar uma lima e informações até a cela dos corsários.

Foi sopa no mel. Sabiam usar bem o instrumento de libertação Em poucas horas estavam em fuga pela noite procurando uma taberna indicada pelo primo onde encontrariam um marujo norueguês que lhes forneceria um barco a remos, uma bússola e víveres.

Antes do romper do sol, os corsários já estavam no mar com outros marujos fugitivos. O pomposo Forbin recusou-se a remar alegando ferimento do braço em batalha e foi designado ao leme.

Jean Bart remou com os outros por 53 horas, parando apenas para comer pedaços de pão e beber cerveja. O mar estava calmo e uma espessa neblina os protegia na fuga pelo Canal da Mancha.

Após remarem por dois dias o barco atracou no porto de Erquy. Os habitantes de Saint-Malo receberam os heróis com belo alvoroço - apesar da rivalidade com Dunquerque. Entre os que se aglomeravam no cais para vê-los, estava o garoto René Duguay-Trouin. Seus olhos brilhavam e seu coração descompassava de emoção. Ele queria viver também essa glória. Mais tarde ele entrará na história.

Aquele foi um dia de festas e aclamação aos corsários.

O esgotado Jean Bart só queria uma coisa: voltar para casa. Enquanto Bart estava no aconchego dos seus, Forbin foi para Versalhes e narrou sua versão da fuga ao secretário de Estado da Marinha. O mesmo fez diante do rei Luís XIV, tomando todas as glórias da emocionante aventura na Inglaterra, o que lhe rendeu uma promoção.

Diz-se que "não há mal que sempre dure". Por fim a justiça foi feita a Jean Bart. Um amigo seu, que era influente na corte, levantou o caso de forma sutil ao rei, e assim Bart e Forbin receberam comandos de navios e um prêmio de 400 escudos de ouro.

Passado um ano do incidente, Bart e Forbin ainda não tinham melhorado suas relações. Agora estavam diante do porto de Bergen, ocupado pelos dinamarqueses que rebocaram barcos da pesca holandeses alegando-os presa de combate no mar do Norte. Além disso, forçaram os pesqueiros holandeses a pagar a taxa de "direito de passagem" para não ter seus barcos afundados. O governador de Bergen, que não gostava de franceses nem de piratas, ainda mais piratas franceses, tinha confiscado os barcos holandeses.

Forbin não gostou do abuso nem da ofensa aos oficiais da marinha francesa como se eles fossem meros piratas. Aliás, piratas não, corsários!

Enquanto Jean Bart vasculhava as tabernas de Bergen, Forbin tomou ação e acusou o governador de Bergen de insultar o rei de França quando confiscou os barcos. Jurou vingança. O governador se viu em palpos de aranha, mas não mudou a ordem de confisco. Forbin e Jean Bart, que gostavam de uma boa encrenca, atacaram os guardas dinamarqueses e tomaram os navios confiscados.

Os dinamarqueses haviam pilhado as cargas. Pilhagem é coisa de corsário. Era mais uma ofensa imperdoável aos oficiais franceses. Ao saber do ocorrido, o governador disse que ia mandar prender o responsável pela pilhagem, mas nada se esclareceu. Ficou pior quando o embaixador de França na Dinamarca cobrou o governo de Copenhague sobre o tal ato.

Após tudo resolvido, Jean Bart e Forbin voltaram à França e em Versalhes relataram os fatos de Bergen. Forbin reservou para si o mérito das negociações, mas quem recebeu os aplausos oficiais e uma polpuda recompensa foi Jean Bart.

Acaba aqui a desavença. Jean Bart foi herói na batalha da ilha de Texel, detonando a frota de guerra holandesa assim como toda a marinha mercante inimiga. Isso pôs fim à rixa com Forbin, pois o rei Luís XIV tornou-o um nobre. Em 1702 uma nova guerra se apresentou, mas quando Jean Bart se aprontava para voltar ao mar, foi freado por uma pleurisia. Forbin viveu para lutar na Guerra de Sucessão da Espanha na qual conduziu três navios pelo Mar Adriático e bloqueou Veneza, onde bombardeou Trieste e Fiume. Entre 1703 e 1704 perseguiu e capturou corsários de Vlissingen, na Holanda.


As peripécias de Duguay-Trouin - Le noble corsair

Em Saint-Malo o filho mais novo de Luc Trouin de La Barbinais, capitão e rico armador, estava sendo preparado ao sacerdócio. Mas o rapaz Rene Duguay-Trouin, que adorava aventuras, tinha outras idéias. Desde criança ouvia falar dos corsários, suas glórias e conquistas. O cheiro fresco do mar o atraía mais do que o de mofo das igrejas. Seu sonho era embarcar numa bela fragata, servir seu país e fazer fortuna como Bart e Forbin. Aos 16 anos estava no mar combatendo contra um navio mercante holandês. Aos 18 anos havia conquistado seu primeiro comando. Aos 20 anos (1693) cruzava as águas da Mancha comandando L'Hercule, uma fragata do rei com a qual capturou 6 navios ingleses e 2 holandeses. Meses depois, a sorte não lhe sorrira e, sem nada pilhado, o navio só trazia prisioneiros. Os víveres e a água estavam acabando e a marujada só pensava em voltar à Saint-Malo.

Entretanto Duguay-Trouin queria continuar a aventura, e para isso tinha de reduzir as rações, o que gerou insatisfação da marujada. Para compensar, prometeu-lhes posse total do próximo saque.

Apesar de supersticioso, Duguay-Trouin achava que podia prever o futuro e estava convencido de que teria sorte. Uma semana se passou e nada de saque. Numa noite, enquanto a marujada pensava num motim, Duguay dormia em seu camarote e teve um sonho: dois grandes navios aparecem no horizonte, prontos para atacar. Ele acorda apavorado. Sai para a amurada e avista velas. Eram dois navios que vinham em sua direção. Certificando-se de que não eram franceses, ele dá o alarme de combate. A marujada corre para seus postos. A barulhada é infernal. O fogo dos canhões ilumina a noite. A fumaça envolve os barcos. A gritaria se prolonga. Os disparos vão escasseando e uma bandeira branca sobe pelo mastro da mezena dos inimigos. A marujada salta para dentro dos navios e vasculha os porões cheios de ouro, prata e açúcar trazidos das Índias Orientais. Duguay-Trouin cumpre sua palavra e marujada embolsa as riquezas.

Um ano após o vaticínio lucrativo, a sorte do francês vidente foi posta à prova. Ele e seu navio-almirante, La Diligente, enfrentaram seis navios de guerra ingleses muito bem armados. Duguay-Trouin foi ferido por uma bala e perdeu os sentidos. Finda a luta, foi transportado para o barco inimigo. Ao acordar estava indo para Plymouth onde foi encarcerado. Vivia um momento igual ao de seus heróis Bart e Forbin. E também pensava igual: fugir dali.

Nos primeiros dias de cela, Duguay-Trouin teve um tratamento tolerante. Podia passear pela cidade sem guardas e beber nas tabernas. Numa dessas beberagens conheceu uma bela inglesa. Apaixonou-se por ela. Antes que declarasse seu amor, foi pego e levado de volta para a cadeia.

Parece que o amor era recíproco, pois a moça conseguiu uma autorização para visitá-lo todos os dias. Daí pra frente pode-se imaginar o que aconteceu ou então ler o livro de memórias de Duguay-Trouin. Enfim, a moça foi tantas vezes lá que um dos guardas acabou arrebatado pelos encantos dela. Duguay-Trouin percebeu o clima de sedução e armou uma fuga com a conivência do guarda e pediu a ele para levar uma carta a um amigo.

Durante os passeios livres Duguay-Trouin tinha conhecido numa taberna de Plymouth um comandante sueco cujo navio aportara há alguns dias. Na sua carta, Duguay-Trouin pedia-lhe ajuda na escapada. O sueco mandou um marujo até a cela para avisá-lo de que o aguardava com um pequeno barco a remo, mosquetes e provisões para quatro dias.

Na hora combinada a moça seduziu o guarda que, esperançoso de uma boa noitada com ela, soltou Duguay-Trouin. Dali em diante foi só escalar um muro, correr para o cais, pular pra dentro do barco e remar para a liberdade. Remou a noite toda, o dia seguinte, e mais dois dias até chegar esgotado a Saint-Malo. A população o cobriu de glórias tal como seus heróis Jean Bart e Claude de Forbin.

O mar era a vida de René Duguay-Trouin. No fim do verão de 1695 lá estava ele a bordo do Sans-Pareil ("sem par", ou "incomparável") navegando pela costa oriental espanhola. Esse navio era o mesmo que havia levado Jean Bart e Forbin para a prisão de Plymouth, o Nonsuch, mas fora capturado pelos franceses na costa da Inglaterra. Após uma reforma em Port-Louis, na qual reduziram o número de canhões de 48 para 42, o navio ficou mais leve e manobrável. Agora ele velejava naquele barco histórico e, claro, sabia o que aconteceria se os ingleses o pegassem.

Ao ver três barcos holandeses, sua mente esvaziou-se de tais preocupações baratas e se encheu de brilhos dourados e caros. A frota mercante esperava um navio-escolta na baía de Vigo (Espanha). Ansioso por um saque profuso, Duguay-Trouin entrou no porto com a bandeira inglesa hasteada. Os comandantes holandeses reconheceram a bandeira e o estilo do navio de guerra inglês. Pensando que era a escolta, seguiram confiantes atrás do Sans-Pareil. Ao ver-se longe das costas espanholas, Duguay-Trouin mandou um grupo de oficiais e marujos para cada navio holandês. Quando perceberam o engodo, já era.

O corsário francês estava em dias afortunados. Quando seguia rumo a Brest com seus despojos flutuantes, deu de cara com uma esquadra inglesa. O comandante pediu identificação imediata do Sans-Pareil. Não tendo mais tempo para enrolar, Duguay-Trouin hasteou a bandeira francesa e tomou posição de combate. Seus 42 canhões fustigaram o navio inglês com tal carga certeira que o comandante afastou-se da luta. Os dois navios que sobraram se ocuparam em socorrer o avariado. A noite caiu e Duguay-Trouin, ágil como um lobo do mar, estufou velas rumo a Brest e levou suas presas holandesas junto, claro.


Dias afortunados e desventurados - C'est la vie!

"Desventurado" cai melhor do que "azarado" - palavra muito forte para se usar no mar. Tempos depois Duguay-Trouin navegava pela costa espanhola ao lado da pequena fragata Léonore comandada por seu irmão Étienne, de apenas 19 anos.

Dias se passaram e nada de navio inimigo, nada de víveres e nada de água potável. As riquezas ocuparam o segundo plano e a prioridade agora era o estômago. Avistaram uma baía entre colinas na qual sulcava um rio. Logo um bote desceu com René e Étienne e mais dez marujos rumo à praia. Quando adentraram o rio procurando um bom lugar para desembarcar, disparos de mosquetes vindo das margens os puseram em alerta.

Eram espanhóis nas moitas. Encostaram o bote à margem e saíram empunhando seus sabres em direção aos soldados que bateram em retirada pela margem do rio. Outros botes com marujos vieram ajudar, mas René não quis arriscar uma perseguição, pois poderia ser uma emboscada. Mas o jovem Étienne, louco por uma aventura, queria ir atrás deles a qualquer preço e convenceu seu irmão a sair em busca dos fujões com 150 marujos armados.

Foram todos no encalço e logo avistaram uma aldeia. Fizeram um plano. Étienne ficava de guarda com metade dos marujos e René atacava com o resto. Não demorou um minuto, e os franceses se viram envolvidos numa feroz luta corpo a corpo. Após várias horas de combate, conquistaram a aldeia. Pilharam as armas, as provisões e voltaram para os botes. As baixas foram poucas, mas para Duguay-Trouin uma delas foi chocante: Étienne, ferido, foi levado a bordo do Sans-Pareil. Apesar de medicado acabou morrendo naquela mesma madrugada. René amargou pelo resto da vida a culpa por essa perda.

O tempo apaga a marcas? Talvez das areias, mas não do coração. René volta à ativa para um combate naval a ser travado entre o cabo Lizard (Inglaterra) e a ilha de Ouessant à entrada do Canal da Mancha no extremo noroeste da costa francesa.

Era tempo da Guerra de Sucessão Espanhola que começou em 1702 e só terminaria 1714.

Na manhã de 27 de outubro de 1707 um comboio escoltado por cinco navios ingleses cruza a oeste do Canal da Mancha. São avistados e perseguidos por uma esquadra chefiada por René Duguay-Trouin e por outra esquadra sob o comando de Claude de Forbin. René, com 34 anos, era considerado um dos melhores oficiais da Marinha Real Francesa. E Forbin, era aquele mau caráter? Sim, René encontrara-se com o corsário (seu herói) alguns meses antes e agora ambos estavam na mesma empreitada. Ele conhecia bem a falta de nobreza de caráter do corsário.

René e seus seis navios de guerra estavam no encalço do comboio que ia para Portugal. Ele ia bem à frente da esquadra de Forbin, cerca de uma légua. Quando René viu-se ao alcance dos canhões dos navios-escolta ingleses, percebeu que Forbin reduziu a velocidade de sua esquadra, quando devia acelerar. Temendo que o comboio lhe escapasse, diante dessa manobra evasiva do compatriota, René resolve partir sozinho pra cima dos ingleses. Direciona seu navio, o Lys, com 74 canhões, ajudado pela fragata Gloire, ao encontro do Cumberland, com 82 canhões. Um violento combate se inicia com a artilharia castigando ambos os lados. Após muita gritaria e descarga de bombardas, o navio inglês arria sua bandeira. Perto dali, o Achille abordava o Royal Oak, mas quando os marujos franceses vão saltar para dentro, o paiol do Royal Oak explode levando 80 homens pelos ares. O Achile incendeia e se afasta para apagar o fogo. Enquanto isso o navio inglês, muito avariado, consegue escapar. Mais à frente, o Jason ataca o Chester, e Maure domina o Ruby.

Com o resultado final já se delineando, Forbin chega para combater e encosta no Ruby - atacado pelo Maure - alegando que o navio se rendera a ele, apesar de seus homens nem terem saído de bordo. Tal ação dissimulada pôs por terra toda admiração que René curtia por Forbin. Enquanto isso dois pequenos navios da esquadra de Forbin, o Blackwall e o Salisbury partem pra cima do Devonshire - o mais bem armado navio inglês - que ia entrar na luta. Duguay-Trouin, mesmo com um pequeno incêndio a bordo do Lys, foi também contra o Devonshire. Poderosos canhões vomitavam chumbo de ambos os lados. Em poucos minutos, 300 marujos jaziam no convés do Lys. Apesar de as amuradas avariadas, René Duguay-Trouin tentou abordar o navio inglês, mas teve de afastar-se, pois o incêndio se alastrava. Em questão de minutos o Devonshire ardia em chamas e afundava com seus 900 marujos.

A batalha acabou. O navio de Duguay-Trouin não tinha condições de navegar rápido. Por isso a esquadra de Forbin chegou antes dele a Brest com os barcos capturados. Como lhe era peculiar, Forbin contou a história do ponto de vista heróico dele, mas a verdade chegou aos ouvidos do secretário da Marinha que relatou os fatos ao rei que concedeu uma pensão de mil libras a Duguay-Trouin e um simples parabéns a Forbin.


René no Rio de Janeiro - la ville merveilleuse!

Com uma esquadra de 17 navios e 5.674 marujos e soldados, René Duguay-Trouin fundeia na baía de Guanabara em 12 de setembro de 1711 e do castelo de popa admira a cidade maravilhosa do futuro.

Francisco de Castro Morais, governador português do Rio de Janeiro, já havia sido avisado no dia 24 de agosto, por espiões ingleses, sobre uma frota francesa às costas do Brasil. Devia estar preparado.

Se ele estava, não o demonstrou com firmeza. Assim que a frota francesa adentrou a barra, os canhões portugueses abriram fogo, danificando os navios e provocando muitas baixas entre os invasores. Duguay-Trouin escapa da artilharia da Fortaleza de Santa Cruz da Barra, conquista a Ilha das Cobras e ocupa vários morros da cidade sem resistência dos moradores. Ali abrigado e seguro manda um ultimato ao governador acusando-o de torturar franceses da expedição de Duclerc e ameaça bombardear o porto se a resistência não cessasse.

A população, ainda atordoada com a barulheira dos canhões durante a madrugada, se via ameaçada de um bombardeio seguido de invasão dos franceses à espera no porto. O governador sabia que o corsário não estava blefando e poria a termo a invasão, já que não fora capaz de frear o avanço dos corsários. O que fazer?

Após uma longa viagem de três meses pelo Atlântico, pois partira de La Rochelle em 9 de junho, René Duguay-Trouin tinha agora a faca e o queijo Roquefort na mão. Portugal era inimigo. O Brasil era parte do Império Português, portanto suas riquezas podiam ser pilhadas. Numa vida tão cheia de altos e baixos como era a de René, um êxito contra o inimigo luso compensaria o fracassado ataque à Ilha de São Jorge, no Arquipélago dos Açores anos antes.

Aquele ataque ao rio de Janeiro fora planejado com a anuência do rei Luís XIV. O objetivo era obter alto lucro e vingar a morte do corsário francês Jean-François Duclerc na sinistra tentativa de 1710.

Em resposta ao corsário, o governador negou as acusações de tortura dos franceses em 1710 e disse que defenderia a cidade até o fim. À noite seguiu-se um infernal bombardeamento que provocou uma fuga desenfreada dos artilheiros lusos, deixando a cidade sem defesa. Os franceses desembarcaram e a população não reagiu. O governador fugiu com suas tropas para Iguaçu. Em 10 de outubro, para evitar que a cidade fosse queimada, pagou o resgate de 610 mil cruzados, cem caixas de açúcar e duzentos bois. Satisfeito, Duguay-Trouin prometeu retirar-se.

Corsários numa cidade dominada só sabem fazer uma coisa: pilhar! René Duguay-Trouin não conseguiu impedir seus homens de realizar essa tarefa com a voracidade que lhes era peculiar, mas manteve sua palavra e regressou a França em novembro - cheio de honra e riquezas - aonde chega em 1715. É recebido em Versalhes pelo rei que o gratifica com uma pensão de duas mil libras e uma promoção a chefe de esquadra. Em 1728 é elevado a lugar-tenente geral. Em 27 de setembro de 1736 ele morre na cidade de Paris. Uma estátua de René Duguay-Trouin de quatro metros de altura, esculpida por Dupasquier, orna o Palácio de Versalhes.


capítulo 5
piratas mais perversos


Piratas ficaram famosos no Mediterrâneo, no Canal da Mancha, no Mar do Caribe, mas Henry Avery ficou famoso no Oceano Índico. Nascido em 1653 em Plymouth (Inglaterra), ele começou cedo sua vida no mar como grumete em navios da Marinha Real. Parece que estava na frota inglesa que bombardeou a Argélia em 1671. Depois pilhou no Mar do Caribe a serviço da Espanha e comandou navios de carga em Campeche.

De 1691 até 1692 serviu com o capitão "Red Hand" Nicholls (o Mão Vermelha) ao longo da costa da Guiné africana como um desleal traficante de escravos sob os auspícios do governador das Ilhas Bermudas. Por que "desleal"? Bom, ele comprava negros na costa africana e depois capturava os vendedores encarcerando-os também no porão de seu navio junto aos cativos.


Henry Avery pilha o Mar Vermelho

Piratas ficaram famosos no Mediterrâneo, no Canal da Mancha, no Mar do Caribe, mas Henry Avery ficou famoso no Oceano Índico. Nascido em 1653 em Plymouth (Inglaterra), ele começou cedo sua vida no mar como grumete em navios da Marinha Real. Parece que estava na frota inglesa que bombardeou a Argélia em 1671. Depois pilhou no Mar do Caribe a serviço da Espanha e comandou navios de carga em Campeche.

De 1691 até 1692 serviu com o capitão "Red Hand" Nicholls (o Mão Vermelha) ao longo da costa da Guiné africana como um desleal traficante de escravos sob os auspícios do governador das Ilhas Bermudas. Por que "desleal"? Bom, ele comprava negros na costa africana e depois capturava os vendedores encarcerando-os também no porão de seu navio junto aos cativos.

Em 1694, Avery estava a bordo do Charles II na função de primeiro marinheiro. O navio pirata era munido de 46 canhões sob o comando do capitão Gibson. Ao ancorar em La Coruña, Espanha, Avery e alguns comparsas deram prosseguimento a um bem planejado motim, pois o capitão não cumprira suas infindáveis promessas de dividir as pilhagens. Enquanto Gibson enchia a cara de rum, eles entraram no castelo de popa e invadiram sua cabine. Em segundos o dominaram no beliche. Não houve tempo nem de pegar a pistola. Tomaram o navio com sucesso. Destituído do comando, o capitão Gibson foi baixado gentilmente em um batel e levado à praia onde ficou com seus fiéis.

Agora no comando, Henry Avery - também conhecido por John Avary, Ben Longo ou Benjamim Bridgeman -, sabia que pilhar o Caribe ou o Mediterrâneo não rendia nada. Eram águas vigiadas e não valiam os altos riscos pelos baixos proventos. Havia um cheiro de fortuna pelos lados da ilha de Madagáscar, onde piratas singravam o Oceano Indico para atacar navios mercantes ingleses e holandeses rumo à Europa com farta carga. Avery sonhava com o golfo de Adem onde poderia assaltar embarcações que vinham dos portos de Djeddak e Moka, no Mar Vermelho.

Sim, pilhar as frotas mouriscas era o novo plano de Avery. Deu novo nome ao navio, Fancy, e içou velas para a fortuna fácil. Descendo o Atlântico, nas ilhas do Cabo Verde, Avery debutou na arte da piratagem atacando e roubando três navios mercantes ingleses. De posse das riquezas seguiu viagem até o Cabo da Boa Esperança e dali foi rumo à ilha Johanna (Ilhas Comoros, na costa da África). Parou para fazer reparos no Fancy, aliás, mandou diminuir o tamanho da coberta superior para ganhar mais velocidade. Com efeito, essa modificação no Fancy tornou-o um dos navios mais rápidos que velejavam pelo Oceano Índico. Logo Avery explorou tal velocidade atacando e capturando um navio pirata francês que passava ao largo. Dominou o barco, pilhou o porão e engajou 40 marujos franceses - por livre e espontânea vontade deles, sim. Isso aumentou sua força de ataque para 150 homens.

Com sua nova corriola, ainda na ilha Johanna, Avery escreveu uma carta aos comandantes dos navios ingleses em ação no Oceano Índico dizendo que jamais havia atacado um navio amigo e que para manterem-se salvo deveriam observam um sinal no mastro de mezena de seu navio.


De volta às pilhagens

Em agosto de 1694, o Fancy chega ao Desfiladeiro de Mandab onde se associa a quatro outros navios piratas, inclusive Thomas Tew e sua corveta Amity. Embora não tenham visto o Mughal - navio de 25 canhões - passando a noite com um comboio rumo à Índia, no dia seguinte deram de cara com o Ganj-I-Sawai: um navio na frota de Aurangzeb, escoltado pelo Fateh Muhammed que ia para Surat.

Avery hasteou sua bandeira vermelha de pirata e atacou o Fateh Muhammed que antes repelira um ataque mortal do Amity, do capitão Tew. Talvez intimidado pelos 46 canhões do Fancy ou debilitado pela batalha com Tew, o Fateh Muhammed opôs fraca resistência e a marujada do Avery saqueou o navio levando 50 mil libras de tesouros. Mas o Ganj-I-Sawai escapou. Avery saiu no encalço e o alcançou fora de Surat. O poderoso navio indiano tinha 62 canhões e 500 homens armados de mosquetes e cimitarras. Transportava também centenas de passageiros, entre eles nobres damas de volta a uma peregrinação a Meca. Logo aos primeiros disparos a batalha começou a ser definida. Um dos canhões do navio indiano explodiu matando vários artilheiros e causando grande confusão entre a marujada. Avery aproveita a vantagem e dispara uma bordada que derruba o mastro de mezena e as enxárcias do inimigo. O Fancy traça uma curva ao lado do Ganj-I-Sawai e aproxima-se a bombordo. Os piratas firmaram os ancorotes de abordagem e com o navio preso pulam a bordo.

Se estivéssemos de helicóptero poderíamos ver uma feroz luta corpo a corpo no convés cujo resultado foi a morte de 20 piratas. Apesar de superior, a força indiana combatente foi abandonada pelo líder, Ibrahim Khan, que fugiu para junto de suas concubinas no porão. Após duas horas de feroz refrega os indianos se rendem.

A corja vitoriosa esqueceu o Código de Ética Pirata e fez o que sabia fazer de melhor: judiar dos prisioneiros, matar e estuprar à vontade - inclusive as concubinas. Os que sobraram foram submetidos a cruéis torturas para revelar o local do tesouro. Algumas mulheres se suicidaram para evitar a humilhação. As que escaparam da brutalidade dos piratas foram levadas para bordo do Fancy. Outros homens encontrados no navio foram libertados pelos piratas.

A pilhagem do Ganj-I-Sawai rendeu 600 mil libras incluindo 500 mil peças de ouro e prata, Avery e os capitães piratas associados içaram velas para Réunion onde dividiram a pilhagem: mil libras e algumas jóias a cada marujo.

Avery separou-se de seus aliados em Réunion e se instalou na ilha de Madagáscar onde passou a viver pomposamente. Enfastiado da vida luxuosa e real, o Rei de Madagascar quis mudar de mares. Juntou sua corriola e foi para Nassau, na Bahamas. No caminho, Avery aprisionou 90 escravos e chegou a São Tomé para comprar suprimentos. Fugiu do porto sem pagar aos comerciantes portugueses e foi direto para Saint Thomas onde os piratas venderam seus saques. Finalmente chegaram a Nassau onde subornaram o governador Nicholas Trott para obter refúgio. Não conseguindo livre conduto de Trott nem do governador da Jamaica, Avery resolveu dividir a corriola. Alguns foram para a América do Norte, outros, inclusive Avery, voltaram à Inglaterra. Ele tinha vendido o Fancy com documentos falsificados e comprado a corveta Isaac com a qual foi para a Irlanda e depois Inglaterra. Ao aportar, as mulheres prisioneiras não estavam a bordo - não se sabe se foram vendidas, libertadas ou assassinadas.

Após desembarcar, 24 piratas de Avery foram presos. Dois marujos ganharam absolvição por testemunharem em tribunal contra Avery em outubro de 1696. Seis foram enforcados, e os outros deportados para a Virgínia (EUA). Avery nunca mais foi visto. Sabe-se que era seu plano liquidar seus perseguidores. Mas parece que foi ao contrário, e com razão, pois a pilhagem do navio de Aurangzeb foi desastrosa para a Companhia das Índias Orientais inglesas. O imperador de Mughal ficou furioso e fechou quatro fábricas inglesas na Índia e prendeu os empregados em represália aos roubos e assassinatos pelos fedorentos piratas de Avery. Para acalmar a situação, o Parlamento Inglês vetou anistia a todos os piratas. Isso fez com que os poderosos do partido Whigs delegassem poderes ao capitão William Kidd para caçar piratas no Oceano Índico, inclusive oferecendo uma polpuda recompensa pela captura de Avery.

Mas Avery não foi pego. O que se sabe é que tentou se aposentar com os proventos de suas pilhagens. Vendeu para comerciantes de Bristol um saco de diamantes roubados na Índia, mas recebeu menos do que o combinado, pois ameaçaram denunciá-lo às autoridades e ele ficou sem saída. Segundo Charles Johnson, biógrafo de piratas, quando o dinheiro acabou ele foi trabalhar no porto de Bideford onde adoeceu e morreu na miséria. Não havia um tostão para pagar pelo seu caixão.


Capitão Kidd
Capitão Kidd - o corsário atraiçoado!

William Kidd nasceu em 22 de janeiro de 1645, em Greenock, Escócia. Serviu na Marinha Real durante a guerra contra a Holanda. Em 1690 foi para Nova York onde se casou com Sarah Oort, uma viúva inglesa e muito rica que o introduziu aos contatos políticos. Nessa nova área Kidd conheceu o coronel Benjamim Fletcher, governador de Nova York - conhecido por suas relações comerciais com piratas.

Quando a França e a Inglaterra entraram em guerra, em 1689, William Kidd tornou-se corsário. Ele havia capturado uma fragata francesa ao qual dera o nome de Blessed William em honra do rei inglês Guilherme de Orange. Com esse navio, Kidd detonou uma frota corsária francesa ao largo da ilha de Antigua.

Com o navio avariado em batalha, Kidd o levou para reparos no casco. Antes de o navio ficar pronto ã marujada liderada por Robert Culliford amotinou-se, pois queriam entrar no ramo da pirataria. Kidd não conseguiu impedir o roubo do Blessed, mas como não tencionava virar pirata, voltou para Nova York. Logo depois recebeu o comando de outro navio e continuou como oficial da marinha.

Em 1695, o governo inglês percebeu que os piratas franceses não ameaçavam a frota inglesa. Eram os piratas ingleses e americanos, com bases no Oceano Índico e na Nova Inglaterra, o novo perigo.

Para pôr fim a essa ameaça, a marinha inglesa não podia ser utilizada, mas o governo se dispunha a financiar uma expedição particular, na condição de secreta. Claro, seria complicado explicar que membros do governo eram os mandachuvas e que o rei receberia um décimo das pilhagens.

Um antigo amigo de Kidd, o coronel Robert Livingston, recomendou-o para ser chefe da expedição e apresentou-o ao novo governador de Nova York, Lord Bellomont, que propôs ao rei a nomeação de Kidd.

William Kidd agora tinha em mãos uma carta de corso que lhe dava livres poderes para capturar e pilhar navios franceses na costa de Madagascar. Mas advertiram-no de que não devia molestar amigos e aliados da Inglaterra. Ele podia também capturar qualquer navio pirata que encontrasse, sem distinção. Um dos piratas a caçar era Thomas Tew, ex-companheiro de taberna de Benjamim Fletcher - fanfarrão corrupto, anterior governador de Nova York.

O nome dos mandachuvas não fora revelado a Kidd, apenas sabia que Lorde Bellomont receberia 60% da pilhagem e o rei 10%. O restante seria dividido entre o coronel Livingstone, Kidd e a marujada.

No começo de 1696, capitão Kidd sobe a bordo do Adventure Galley, um belo navio com 34 canhões poderosos e 150 marujos ávidos por riquezas, ancorado em Deptford, ao sul de Londres.

Em 6 de setembro de 1696, com bons ventos pela popa, o Adventure Galley içou velas para Madagáscar. Um ano depois, ao largo das costas do Malabar, na Índia, a marujada andava de mau humor pelo convés. A viagem até então nada rendera. Nenhuma presa fora feita, nem em Madagáscar nem no Oceano Índico. A razão pairava sobre a indecisão de Kidd. Por duas vezes deixaram de aprisionar um navio holandês e outro indiano, porque o capitão os achou muito bem armados.

Além do mais a cólera matara 40 homens só numa semana. Na última escala, 20 marujos descontentes haviam desertado. O barco precisava de reparos e os víveres já escasseavam.

O capitão Kidd percebia uma crescente tensão a bordo. Os marujos resmungavam e trabalhavam com má vontade. Alguns ficavam de costas quando ele se aproximava. Murmúrios e caras feias eram indícios de um motim iminente.

Numa manhã de outubro de 1697, William Kidd andava pelo convés quando ficou cara a cara com seu chefe artilheiro, William Moore. Intimidado pela raiva do artilheiro, Kidd o acusou de incitar a marujada. Moore negou, e o culpou de indecisão na hora de capturar o navio indiano. Kidd chamou o xará de "fedorento" e Moore respondeu que não fosse pela covardia dele, já podia estar rico e perfumado. A discussão se prolongou até Kidd pegar uma tina de madeira bater na cabeça de Moore. Caído no convés e sangrando, o marujo foi levado para o porão aonde veio falecer no dia seguinte.


Capitão Kidd - o pirata!

A partir da morte de Moore, Kidd deixa de ser corsário para ser pirata. Ataca e pilha qualquer barco, chegando ao ponto de torturar os prisioneiros, saquear aldeias das ilhas Laquedivas, da costa Malabar, chacinando homens, mulheres e crianças.

A pilhagem ainda não rendia o satisfatório, mas em janeiro de 1698, Kidd avista o Quedagh Merchant, um navio armênio que deslocava 400 toneladas. O capitão Wright (ou Edward Barlow) comandava o navio - um inglês que adquiriu concessões da Cia das Índias Orientais francesas com o intuito de proteger seus comércios.

O Quedagh atirou primeiro. Os piratas responderam ao fogo e partiram pra cima deles. Emparelharam, abalroaram e pularam para dentro volvendo seus cutelos. Sendo francês, o navio podia ser pilhado. E foi! O ouro, prata, jóias e sedas, tudo foi depois dividido com a maruja. Semanas depois Kidd aportou na ilha de Santa Maria - famosa base dos Piratas de Madagáscar. Entrou no porto orgulhosamente com duas presas armênias: o Quedagh e o Maiden. Dias depois mandou incendiar o Maiden e o Adventure Galley, mantendo o Quedagh Merchant como seu navio-capitânia.

Em Madagáscar, Kidd encontra seu velho inimigo, Robert Culliford numa taberna. Os dois trocam várias ofensas e farpas que terminam em goles de rum e risadas de suas histórias malucas e saques.

Dias se passaram. O bicho ia pegar, pois vários marujos de Kidd aliaram-se a Culliford vislumbrando mais riquezas. O Código Prata era claro e foi levado a cabo. Os desertores foram julgados e enforcados.

Fato curioso é que Kidd e Culliford se encontrariam de novo três anos depois, mas não numa taberna e sim na sala dos réus, em Londres, no tribunal de Old Bailey. Nesse dia não houve brindes nem risadas.

Após o ajuste com a marujada rebelada, Kidd volta para a Cia. das Índias Ocidentais inglesas, onde as notícias de suas crueldades no Oceano Índico já haviam chegado. Ao aportar no Caribe, em meados de 1699, William Kidd soube que ia ser preso por pirataria.

Ele acreditava que Lord Bellomont livraria sua cara, ou melhor, seu pescoço da forca, pois sua contratação para a expedição corsária tinha sido feita por figurões. E mais, ao capturar o Quedagh Merchant ele descobriu que o capitão era pau-mandado do governo francês para proteger seus navios dos corsários. Sendo assim, já que a Inglaterra e a França estavam em guerra, a pilhagem era legítima obra corsária.

No entanto ele não tinha agido como corsário e sim como pirata! E mais, tinha assassinado um marujo inglês. Kidd estava enrascado. Parte de sua marujada havia desertado em Madagáscar, outra sumiu no Caribe. Em Hispaniola levou seu tesouro para um cúter chamado Antônio que comprara naquele porto. Dali fez escala na baía de Delaware (EUA) onde outros marujos fugiram com seus saques para escapar da polícia. Kidd zarpou Long Island e ancorou na Oyster Bay. Escreveu ao advogado James Emmot pedindo para procurar Lord Bellomont e juntou à carta os passes de concessão franceses. Emmot entregou os documentos a Bellomont. Depois respondeu a Kidd que apresentando provas de que não cometera pirataria, não precisaria se preocupar.

Não era bem assim. Todos os governadores das colônias tinham ordens para prender Kidd e sua corriola. A Inglaterra e a França estavam em paz e seu amigo Bellomont não queria que viesse à tona seu envolvimento com um imundo corsário.


Capitão Kidd é julgado

Ainda acreditando em sua inocência, o inocente Kidd desembarca em Gardiner's Island (perto de Long Island) e deixa ali várias caixas com tesouros. Depois vai para Block Island (EUA), onde encontra a mulher e os filhos. Envia quatro diamantes e dois anéis à Lady Bellomont, que recusa os presentes. Em 2 de julho de 1699, desembarca em Boston (EUA) e dois dias depois, Bellomont manda prendê-lo.

William Kidd é enviado à Inglaterra para ser julgado. Fica um ano na prisão de Newgate até enfrentar o tribunal de Old Bailey. Sendo notícia nacional, os membros do governo, outrora seus cupinchas, querem se livrar dele. Contam histórias aos jornalistas e se mostram a favor do enforcamento do capitão pirata. Lord Bellomont não veria a conclusão do julgamento, mas antes de morrer declarou: "Nunca vi tamanho mentiroso e ladrão como esse Kidd".

Estava tudo arrumado. No dia 8 de maio de 1701 o capitão Kidd estava diante do tribunal para responder aos processos de assassinato de William Moore; pilhagem ilegal do Quedagh e do Maiden; e outros atos de pirataria. Kidd sentiu-se andando pela prancha. E mais: quando não pode apresentar testemunhas de defesa, percebeu que sua sorte estava selada.

Duas testemunhas da acusação eram marujos desertados em Madagáscar e ganhariam o perdão incriminando o capitão. Kidd se defendeu negando os atos de pirataria e assassinato, mas não tinha as provas. Haviam sumido.

Diante de seu rosto pálido, testa enrugada e olhar abatido, os juízes se retiraram para deliberar sobre a sentença. Dez minutos depois voltaram à sala com o veredicto: culpado de todas as acusações, e condenado a forca!

O corsário que virou pirata, agora com 55 anos, era conduzido numa carroça ao Execution Dock (Doca de Execução), à margem do rio Tâmisa, para ser enforcado diante de uma multidão inquieta. Passaram a corda em seu pescoço e o lançaram. Mas o laço rompeu-se e Kidd foi novamente levantado para o cadafalso. Enfim, o instrumento sinistro funcionou a contento e William Kidd morreu. Era 23 de maio de 1701. Seu corpo foi banhado em alcatrão levado para Tilbury, onde ficou suspenso e acorrentado de modo exemplar.

Algumas perguntas não querem calar. Se Kidd tinha uma carta de corso, porque a pilhagem dos navios indianos protegidos pela França foi considerada "ilegal"? Como seria uma "pilhagem legal"? Onde foi parar os passes de concessão que Kidd tanto alegou? Para essa temos a resposta: em 1911 as duas "concessões" enviadas à Lord Bellomont foram achadas nos Arquivos Nacionais de Londres.


james plantain
o pirata jamaicano rei de Madagáscar

Nem todos os piratas morriam na ponta de uma corda. Uns morriam na ponta de um cutelo e outros fugiam para uma ilha distante.

Por volta de 1720, Thomas Matthews encabeçando uma feroz caça aos piratas, fez um escala na Ilha de Madagáscar. Ao desembarcar foi recebido por um europeu muito bem vestido que trazia preso ao cinto de couro duas pistolas. Apresentou-se como o rei da Baía Ranter e convidou-o para ir ao seu palácio. Doze negros com pontiagudas lanças mostraram o caminho a seguir.

O palácio era uma fortaleza e a recepção transcorreu com bebida farta e muita festa. Matthews preferiu manter relações amigáveis com seu anfitrião, James Plantain. apesar de seu dever ser prender aquele pirata! Além disso, outros dois amigos dele ali presentes: o escocês James Adaire o dinamarquês Hans Burgen, que também estavam na lista inglesa de piratas procurados.

Nascido na Jamaica, James (ou John) Plantain acumulara sua fortuna pilhando. Claro, essa era uma função pirata. Madagáscar dividia-se em pequenos reinos - sempre em guerra entre si. Plantain chegara a ilha em 1715. Estava a bordo com John Taylor, pirata que atacou um riquíssimo navio português perto de Madagascar. Depois de dividir o saque com a marujada, Plantain e seus amigos James e Hans ficaram na ilha onde se alojaram na Baía de Ranter (hoje Antogil).

Agora Plantain era o mandachuva do território da Baía de Ranter, ao sul da ilha. Sua corriola era composta de negros bem treinados, e o "palácio" era digno da riqueza acumulada, onde transitavam suas belas esposas vestidas de sedas e ornadas com jóias caras.

Matthews agradeceu a hospitalidade e voltou à Inglaterra prometendo ao rei da Baía Ranter que negociaria seu perdão. No entanto, Matthews foi despedido pelo rei da Inglaterra pelo não cumprimento do dever.

Plantain continuou em seu paraíso até que, cansado da beleza de suas esposas, apaixonou-se pela neta do rei Dick, de Massaleage, na costa ocidental da ilha. O rei Dick se recusou dar a mão da jovem Eleanore Brown, uma mestiça inglesa, ao rei de Ranter.

Educadamente, James declarou-lhe guerra.

O chefe do exército de Plantain era um pirulão chamado Tom, o Mulato, que se dizia filho do pirata Henry Avery com a filha do Grão Mogol. Não custa nada sonhar. Bom, alguns amigos do rei Dick vieram para o lado de Plantain que agora somava milhares de homens armados de mosquetes e lanças. As bandeiras inglesa, escocesa e dinamarquesa, tremularam no campo de batalha e a vitória coube aos piratas. Não se sabe se o pirulão sobreviveu.

Os pombinhos casaram. Plantain era atencioso, mas ciumento. Ensinou à esposa a teoria do perdão cristão, mas na prática mandou matar um marujo inglês que se apaixonou por ela.

Ambicioso, Plantain declarou guerra a todos os reis da ilha. Queria ser rei de tudo. Por volta de 1725, já controlava toda a ilha. Era o Rei de Madagáscar.

Todo autoritário faz inimigos. Temeroso de uma traição, Plantain pôs Eleanore e os filhos a bordo de um cúter e abandonou a ilha. Cruzou o Mar de Omã e desembarcou em Malabar (costa da Índia). Nunca mais se ouviu falar do Rei da Baía de Ranter.


barba negra
O EXCÊNTRICO

Não há muitos registros sobre Edward Teach (ou Tatch), mas parece que nasceu em Bristol, Inglaterra, e começou a navegar durante a Guerra da Sucessão Espanhola (1701-1713) como corsário inglês. Com o fim da guerra ficou no Caribe fazendo pequenas pilhagens.

Em 1717 capturou um navio mercante francês. Reformou-o acrescentando 40 canhões e depois mudou o nome para Queen Anne's Revenge (Vingança da Rainha Anne) com o qual atacava frotas ao longo da Virgínia e Carolina do Norte com sua bandeira negra hasteada. Nessa época Port Royal não era mais o centro da pirataria no Caribe. O porto da vez era Nassau, na ilha de New Providence, nas Bahamas. Ali era a base de operações da frota ligeira de Barba Negra para suas pilhagens. Arte e ofício que aprendeu com outro famoso e horrível pirata: o capitão Hornigold.

Barba Negra superou o mestre. Cada ataque era inesquecível (para as vítimas, claro!). Aquela densa barba preta, que lhe tormava todo o rosto e se alongava até o peito, aterrorizava qualquer um. E mais: o gigantesco monstrengo fazia tranças enfeitadas com fitas enroladas nas orelhas. Nos combates partia para cima dos inimigos com seu enorme sabre, e no peito trazia três pares de coldres com pistolas alojadas. No chapéu pendurava mechas acesas que pendiam em volta do rosto, sem falar no olhar cruel e assustador que, por si só, já era uma arma de dois canos. Barba Negra sabia como fazer marketing pessoal.

O excêntrico pirata encontrou outro pirata famoso em Nassau: Stede Bonnet - antes um agricultor de Barbados que resolveu assumir a pirataria para fugir da geniosa esposa Mary Allamby.

Bonnet nasceu em 10 de dezembro de 1688 em Bridgetown, Barbados. Fez pilhagens independentes nas Bahamas e depois se associou a Barba Negra. Participou com ele de alguns saques, inclusive durante o bloqueio de Charleston (EUA). Barba Negra havia tomado como refém um membro do conselho municipal do porto e ameaçou chacinar todos os prisioneiros que estavam num navio que ia para a Inglaterra, se o governo de Charleston não lhe entregasse uma caixa de medicamentos.

Não sabemos para quem eram os medicamentos, mas Stede Bonnet logo percebeu que Barba Negra tinha caprichos exóticos e resolveu não mais piratear com ele. No entanto, a vida de pirata independente de Stede Bonnet não durou muito. Ao afastar-se de Barba Negra para pilhar sozinho, esqueceu-se de que estava na lista negra de procurados.

Cheio de si, Bonnet, agora capitão do Royal James, atacou e pilhou um navio perto da Carolina do Sul. Mesmo avariado, o Royal rebocava sua presa pela foz do rio Cap Fear. Ao saber disso, o governador da Carolina do Sul, Johnson, enviou dois navios sob o comando de William Rhett ao seu encalço para destruí-lo. No combate, os navios encalharam nos baixios e Bonnet, sem mais estratégias para a luta, baixou sua orgulhosa bandeira preta e içou a vergonhosa branca de rendição.

Foi preso numa casa, mas fugiu numa barcaça. O próprio William Rhett o capturou novamente e levou-o para Charleston onde foi julgado e condenado à morte com 30 dos seus marujos.


Barba Negra zarpa para o inferno

Em 1718, Barba Negra havia recusado a oferta de anistia geral aos piratas que se rendessem e fixou-se numa enseada da Carolina do Norte onde cobrava pedágio e punia violentamente quem se recusasse pagar. Sem a taxa as mercadorias não entravam na colônia.

Várias reclamações chegam aos ouvidos de Charles Eden (governador da Carolina do Norte), que se faz de desentendido. Por fim, os reclamantes procuram Alexander Spotswood (governador da Virgínia) que se propõe a resolver o caso contratando uma frota inglesa sob o comando de Robert Maynard para despachar Barba Negra para o inferno.

Em novembro de 1718, quando Spotswood soube que Barba Negra tinha aportado em Ocracoke Inlet, à entrada do estreito de Pamlico, dá sinal verde para a caçada.

O tenente Robert Maynard sai com dois barcos ligeiros, do tipo cúter, pois as águas eram muito rasas. Levava 55 voluntários, marujos-mercenários, ex-piratas, pois ganhariam boa recompensa no caso de êxito. Barba Negra valia 100 libras; outro capitão 40 libras; cada imediato ou mestre 20 libras; qualquer outro oficial subalterno, 15 libras; e cada marujo 10 libras.

Anoitece. Maynard avista o navio de Barba Negra perto da margem. Os piratas deviam estar bêbados, haja vista a algazarra a bordo. Os barcos de Maynard aproximam-se. O navio de Barba Negra avança na direção da praia. Os de Maynard seguem-no e encalham nos baixios. Imobilizados, vêem o navio pirata virar e disparar uma bordada que incendeia as velas. O aparelho cai e mata um capitão e vários marujos do barco ao lado. Maynard não se apavora. Joga ao mar alguns canhões e desencalha seu barco. Em seguida ataca o navio pirata. Barba Negra tenta içar as velas, mas encalha. Maynard se aproxima e vê o vulto gigantesco de Barba Negra organizando seus marujos para o combate. Maynard ordena a rendição. Ouve a voz grave de Barba Negra respondendo um abusado "não" seguido de uma descarga de canhões. A fumaça dissipa e 20 marujos-mercenários jazem no convés diante de Maynard. Pobres homens sem recompensa.

O tenente ordena que o restante desça para a coberta, desafiando Barba Negra para a abordagem a estibordo. Vendo apenas o timoneiro e o capitão almofadinha na tolda, os piratas ajeitam suas bandanas (*) na cabeça, levantam seus cutelos e pulam para dentro do cúter de Maynard. Então, 30 marujos-mercenários saem da coberta e atacam os piratas por trás. Barba Negra cai na armadilha. Furioso, parte para o combate corpo a corpo. O tilintar de lâminas e estampidos vai diminuindo. Barba Negra maneja seu sabre e pistolas contra doze marujos-mercenários. Cheio de feridas e coberto de sangue, Barba Negra leva um tiro de pistola disparado por Maynard. O gigante avança em direção ao tenente e tomba. Parado diante do corpo, Maynard corta a cabeça do pirata e a fixa na proa do navio. Em seguida volta a Bath para receber a recompensa.

Apenas 14 piratas feridos sobreviveram à luta. Foram julgados e condenados à forca.


john rackham
SUAS CAMISAS E SUAS MULHERES

John Rackham ou Rackum era um capitão bonitão. Adorava vestir camisas brilhantes de calicô (algodão branco da Índia) que lhe valeram o apelido de Calico Jack. Além das camisas, ele tinha um fraco por bebidas e mulheres. Nascido em 21 de dezembro de 1682, na Inglaterra, aprendeu muito sobre pilhagens com o pirata Charles Vane. Em 1718 Vane recusou-se a atacar o veleiro francês Windward Passage. A marujada alegando covardia amotinou-se e nomeou Rackham como novo capitão. Após ter tomado uma garrafa de rum, Rackham tomou coragem e voltou para atacar o polêmico barco francês.

No comando de seu próprio navio, Rackham passou a saquear pequenos barcos perto da costa. Apesar do ar altivo, seu jeito fanfarrão não inspirava segurança. Só atacava se tivesse certeza da vitória. Não demonstrava coragem nem autoridade.

Após algumas pilhagens, Rackham fundeou numa ilha deserta para descansar. Então, de surpresa, chegaram duas corvetas da Jamaica e o aprisionaram. Rackham foi levado para Ilha New Providence, mas pediu "perdão real" ao governador Rogers - concedido em maio de 1719.

Calico Jack ficou ali com suas camisas brilhantes. Sem nada pra fazer, o capitão bonitão vagava pela ilha onde conheceu a atraente e inteligente Anne Bonny, uma mulher casada.

Anne Cormac nasceu em 8 de março de 1700, em County Cork, na Irlanda, o pai (advogado) emigrara com a família para Charleston, na Carolina do Sul onde Anne conheceu o pirata americano, James Bonny e fugiu com ele para Nassau. James passou a trabalhar para o governador como dedo-duro de piratas. Aborrecida e desmotivada, Anne passava o tempo bebendo em tabernas e se divertindo com vários piratas. Então Rackham chegou para beber. Ajeitou sua bandana vermelha e tomou um gole de rum. Aquela figura exótica com camisa de calicô acelerou o coração de Anne. Trocaram olhares. Apaixonaram-se. Tiveram um romance e Rackham gastou grande parte do seu ouro pilhado em mimos com ela. Mas o caso amoroso foi denunciado por James, ex-marido de Anne. Virou notícia e o governador ameaçou prender e chicotear Anne por adultério.

A fim de salvá-la, Rackham procurou sua antiga corriola para roubar uma corveta e levar Anne para longe. Dizem que ela cortou os cabelos, se vestiu de homem e adotou o nome de Adam Bonny, pois a marujada poderia segregá-la. No entanto, essa versão é romântica. Na verdade Anne estava presa com Rackham por denúncia do ex-marido dela. Anne o ajudou a fugir e roubaram uma corveta (o Revenge) ancorada no porto de Nassau. Só depois juntaram marujada e zarparam. Na vida de pirata, ela combateu ao lado dos marujos e mostrou-se competente na manobra do navio e no uso de armas. Assim ganhou o respeito deles e foi elevada a mesma categoria. O nome de Anne já era conhecido por todo mundo. O governador Rogers até incluiu-a na "lista de piratas procurados" publicada no jornal Boston News-Letter que circulava nos EUA.


Mary Read - uma pirata de verdade

Rackham gostava de mulheres, mas ter duas a bordo era a glória. Mary Read era corajosa como qualquer pirata. Essa inglesa da pá virada, nascida em 1690 em Plymouth, foi criada de forma estranha. Sua mãe havia perdido um filho (Mark) o qual substituiu pela filha colocando nela roupas masculinas, assim não perderia a pensão do avô paterno para o sustento. Ninguém descobriu o segredo e a menina cresceu como um garoto. Na hora de escolher carreira, "Mark" quis ser soldado. Afinal era algo emocionante, rude e másculo.

Vestiu uniforme e lutou na guerra contra a França ao Norte da Bélgica. Esteve na infantaria e depois na cavalaria. Quando começava a galgar o posto de oficial, apaixonou por Fleming, um soldado holandês. Mark virou Mary e casou com o moço, mas ele morreu meses depois. Mary virou Mark. Cortou os cabelos, vestiu suas roupas masculinas e embarcou num navio holandês para as Índias Ocidentais. No percurso, o navio mercante é atacado e capturado por piratas. Que emoção! Mark descobre o que realmente queria fazer da vida.

Os piratas eram chefiados por John Rackham. Mark foi levado para bordo e o navio despachado. Excitado entre a marujada, Mark vê um bonito rapaz, de maneiras requintadas e delicadas no convés perto da talha. Era Anne Bonny. Logo surgiu uma amizade entre eles (elas). Mas Anne começou sentir atração por Mark (pensando que ele era homem). Isso forçou Mark a revelar que era mulher. Mas Rackham não sabia. Com ciúmes por vê-los juntos, ameaçou cortar a garganta de Mark. Assim Anne teve de contar o segredo a Rackham que permitiu a Mark ficar no meio da marujada.

Então vem o pior. Mark se apaixona por um jovem marujo. Certa tarde, o jovem marujo tem uma briga com um pirata que lhe desafia para um duelo. Mark sabendo que o jovem marujo não era páreo para o pirata, quer protegê-lo e provoca o pirata cuspindo-lhe na cara. O pirata furioso desafia Mark para um duelo ao amanhecer - antes do duelo que o pirata teria com o jovem marujo.

O navio ancora numa pequena ilha e a marujada ansiosa desembarca em batéis para ver a disputa. Rackham dá o sinal. Os desafiantes se posicionam. Mary de bandana e o pirata de chapéu. Andam dez passos se afastando um do outro. Erguem as pistolas, viram-se e apontam. Dois estampidos ecoam. Ninguém cai. Desembainham seus cutelos e se enfrentam. Durante a luta Mark simula um rasgão na blusa e mostra os seios. O pirata vacila e Mark o atravessa com o sabre. O jovem não precisou duelar, o pirata estava morto.

Com o segredo revelado, Mary e Anne passam a usar roupas de homens quando atacavam navios, e roupas de mulheres em dias normais.


Rackham é capturado

Em outubro de 1720, Rackham e a marujada ancoram numa pequena baía retirada para descansar quando são atacados por uma corveta sob o comando de Jonathan Barnet a serviço do governador de Jamaica. A maioria dos piratas não opôs resistência, pois estavam bêbados. Nem os canhões estavam carregados nem Rackham se apresentou ao combate. Mas, Mary Read e Anne Bonny estavam sóbrias e lutaram contra os soldados de Barnet. Enfim, desarmadas, continuaram a dar chutes e a arranhar os rostos dos atacantes. Mas não foi o suficiente para afastá-los. Todos foram capturados e levados a julgamento.

Em novembro os piratas estavam em San Jago de la Vega, na Jamaica. Rackham tentou comprometer todos para se livrar. Acusou os marujos de violentos sanguinários e Anne e Mary de piratas ávidas e cruéis. No entanto, elas se
defenderam alegando estar grávidas. Segundo a justiça comum inglesa, ambas tiveram suspensa a execução até darem à luz.

Não há registros da execução de Anne. Uns dizem que voltou para o marido; ou retomou a vida de pirata com novo nome. Porém, o Dictionary of National Biography diz que "Provas fornecidas pelos descendentes de Anne Bonny mostram que seu pai afiançou a libertação e levou-a de volta para Charleston, onde deu a luz ao filho de Rackham. Em 21 de dezembro de 1721 casou-se com Joseph Burleigh e tiveram oito filhos".

Quanto a Mary Read, morreu na prisão, provavelmente de febre, apesar de pesquisadores afirmarem que morreu durante o parto no dia 28 de abril de 1721.

John Rackham e marujada foram condenados à forca e executados em 17 de novembro de 1720. Segundo Charles Johnson, na véspera da execução (16 de novembro) Anne foi visitá-lo e disse: "Se você tivesse lutado como um homem, não seria enforcado como um cão!".


howel davis
O EMBOSCADOR EMBOSCADO

Nascido em Milford (Pembrokeshire) no País de Gales, Davis cresceu no navio negreiro como grumete. Por volta de 1718 o barco foi capturado por Edward England na costa da África. Davis era amigável e England o favoreceu com o comando de um navio. Davis zarpou com o intuito de vendê-lo no Brasil, mas a marujada não quis e seguiram para Barbados. Chegando lá foram presos. Solto após três meses, Davis decidiu ser pirata e foi às Bahamas juntar-se marujada, mas acabou sendo engajado pelo governador Woodes Rogers para servir num navio cargueiro.

Na Martinica (Mar do Caribe), Davis amotinou-se e a marujada votou nele como capitão.

Agora com 35 marujos, Davis debutava na pirataria atacando dois navios franceses ao norte de Hispaniola. Hábil em emboscadas, após capturar o primeiro, mandou os prisioneiros se fingirem de piratas e brandir seus cutelos na coberta do navio. Vendo dois navios com muitos "piratas" os franceses se renderam. Davis foi para ilha de São Nicolas (Cabo Verde) onde mandou a marujada do Buck acenar os braços para o governador português, fazendo-o crer que era um navio pirata inglês. Assim passaram. De São Nicolas Davis velejou para Ilha Maio onde saqueou muitos navios e tomou o Saint James para si. Foi para o forte da Companhia Real da Africa, no rio de Gâmbia, onde ele e os homens desembarcaram muito bem vestidos. Foram convidados para jantar com o governador que depois foi aprisionado e teve de pagar duas mil libras para ser solto.

Fugindo dali, atacou navios ingleses e holandeses carregados de marfim, ouro em pó e escravos. Tomou um navio para si e batizou-o "Rover" com o qual capturou três navios negreiros ingleses. Um dos oficiais era Bartholomew Roberts que decidiu unir-se a Davis. Vão para a Ilha de Príncipe e no caminho pilham 15 mil libras de um navio holandês. O Saint James, muito danificado, é abandonado. Na ilha, Davis enrola o governador português alegando ser caça piratas.

Em junho de 1719, Davis preparava uma fuga, mas é emboscado no palácio do governador. Leva cinco tiros. Cambaleia e cai morto. Em seguida é degolado. Ao saber disso, a marujada liderada por Roberts zarpa rapidinho e se vinga queimando o forte e bombardeando a cidade.


bartholomew roberts
UM PIRATA REFINADO

Este pirata elegante vestia sempre um grande casaco vermelho estampado com flores douradas. Não gostava de rum, e sim de chá. Mantinha a bordo uma estrita disciplina e exigia rigorosa obediência das regras do Código Pirata por toda a marujada. Exemplo: não permitia que dormissem muito tarde e proibia jogos de dados ou baralho, pois tal diversão levava os marujos a discussões e violência. Para prevenir incêndios, as luzes eram apagadas às oito horas da noite. Não permitia que se bebesse noutro lugar senão no convés. Cada homem devia manter seu sabre e pistolas limpas, prontas para ação.

Robert pirateou com Howel Davis que morreu na Ilha de Príncipe. Robert mostrou muita coragem na fuga e a marujada impressionada o elegeu capitão. Então cruzaram o Atlântico e ficaram nove semanas rondando a costa brasileira sem avistar um navio. Em julho de 1719, quando iam zarpar para a Índia Ocidental avistam um comboio de quarenta e dois mercantes portugueses, escoltados por duas fragatas, rumo à Bahia de onde partiriam para Lisboa.

Ouro? Roberts observava a frota portuguesa do castelo do Rover e não tencionava sair dali com os porões vazios nem com o corpo cheio de chumbo. O problema era como pilhar aqueles navios defendidos por fragatas bem armadas. Sua melhor arma seria a astúcia. Mandou a marujada ficar na coberta e entrou na baía. Chegou perto dos navios portugueses e do chapitéu cumprimentou alegremente o capitão. Em seguida convidou-o para subir a bordo do Rover. O capitão português acreditou ser um aliado e foi. Roberts apresentou-se e pediu ao capitão para não fazer qualquer sinal. De repente o português viu-se rodeado por marujos ingleses. Roberts pediu amavelmente que ele mostrasse com o dedo qual navio tinha a carga mais valiosa. O capitão apontou para o Sagrada Família, ancorado ao longe do Rover.

O plano de Roberts ia bem, mas os portugueses desconfiaram daquele estranho navio no meio deles. Ao se aproximar do Sagrada Família, Roberts viu a marujada tomando posição de combate e disparou uma bordada do Rover em cima deles. Quando a fumaça baixou, os piratas fixaram os ancorotes e pularam para dentro do navio português. Renderam o comandante. As fragatas seguiram para o local disparando contra o Rover, mas Roberts já fugira com o Sagrada Família para longe do porto seguido pelo Rover. A pilhagem rendeu milhares de lingotes de ouro. Roberts partilha com a marujada e vai para a Ilha de Diabo (Guiana) gastar o saque. Semanas depois, no rio Suriname, eles capturam uma corveta. Ao avistar um brigue, Roberts sai atrás dele na corveta deixando Walter Kennedy com o Rover. Quando volta descobre que Kennedy levara o Rover com todo o seu saque. Roberts e a marujada batizaram o corveta de Royal Fortune e juraram vingança.

Em fevereiro de 1720 Roberts se junta ao pirata francês Montigny la Palisse, capitão do Sea King. Em junho de 1720, o Fortune veleja ao norte de Newfoundland (Canadá). Depois de capturar vários navios ao largo do Cabo Breton, Roberts invade o porto de Ferryland e captura uma dúzia de barcos. Em 21 de junho é a vez do porto de Trepassey onde entra com sua pavorosa bandeira preta tremulando no mastro da mezena. Horrorizados os capitães se jogam ao mar. A marujada os segue. Os piratas tomam Trepassey sem qualquer resistência. Roberts tinha capturado vinte e dois navios, mas enfureceu-se pela covardia dos capitães. Assim, todas as manhãs um canhão era disparado e os capitães eram forçados a cuidar de Roberts a bordo do navio dele; se algum se ausentasse, teria o navio queimado. Após pilhar a cidade por dez dias, Robert segue satisfeito para as Índias Ocidentais contemplando do chapitéu os navios ardendo em chamas no porto.

Em julho Roberts captura nove navios franceses. Reforma um deles, acrescenta vinte e seis canhões e batiza de Good Fortune. Com essa poderosa máquina de assalto os piratas capturam muitos navios, acompanhados da corveta Sea King, do pirata Montigny que se unira a eles. Em setembro de 1720, o Good Fortune passou por consertos no casco e no castelo de popa na ilha de Carriacou e é batizado Real Fortune. No fim de setembro, o Real Fortune e o Fortune rumam para a ilha de Saint Christopher onde entram no porto tremulando a bandeira preta e fazendo maior alarde, tocando tambores e trombetas.


Piratas em férias no caribe

Roberts seguiu para a Martinica e Barbados. Em Saint-Cristophe afunda navios e incendeia casas. As notícias chegaram ao governador da ilha francesa de Saint Bartholew que oferece acolhida aos piratas com banquetes e moças bonitas. Após as férias no Caribe, em 25 de outubro estão novamente no mar rumo a Saint Lúcia onde capturaram quinze navios franceses e ingleses. Entre os capturados estava o capitão James Skyrme que se une aos piratas.

Em fins de abril Roberts estava nas ilhas de Cabo Verde. O Royal Fortune começou a fazer água e foi abandonado. Os piratas se transferem para o Sea King batizado de Royal Fortune que sofreu reforma na costa da Guiné. Os piratas se aproximam da foz do Rio Senegal e travam combate com duas fragatas francesas que são capturadas: uma é batizada de Ranger e fica sob o comando de Thomas Sutton; a outra, Little Ranger (usada como barco de suprimentos), fica sob o comando de James Skyrme.

Roberts e sua corriola chegam a Serra Leone em 12 de junho. Ficam sabendo que duas fragatas da Marinha Real, a Swallow e a Weymouth tinham partido, mas voltariam antes do Natal. Roberts tinha tempo de sobra. Em 8 de agosto captura dois navios em Point Cestos (hoje Rio Cess na Libéria). Em dezembro os piratas vão relaxar no Cabo Lopez e na ilha de Annobon. Sutton é substituído por Skyrme como capitão do Ranger.

Curtindo o merecido relaxamento, os piratas avistam a Swallow, sob o comando do capitão Chaloner Ogle em 5 de fevereiro de 1722. Roberts pensa ser um navio português e manda o capitão Skyrme do Ranger atacá-lo. Confiante, Roberts fica em Cabo Lopez. Ogle, perseguido por Skyrme simula fuga, mas volta-se e ataca. O contramestre do Ranger não tem tempo para manobra e a Swallow abalroa o navio pirata com a proa. Violento combate se segue. Skyrme tem sua perna arrancada com uma bala de canhão mas continua lutando. Com a maioria dos homens morta, o capitão pirata se rende.

O capitão Ogle organiza seu navio e segue para o cabo Lopez onde vê o Royal Fortune fundeado. Era 10 de fevereiro. Roberts estava elegante no castelo de popa. Vestia colete, calções de brocado carmesim, chapéu com pluma vermelha e um crucifixo cravado de diamantes pendente ao peito. Não usava brincos. Ele começava sua refeição preferida de peixes e legumes enquanto a marujada festejava com pipas de rum.

Ao perceber o ataque, manda os homens correr para seus postos, mas estilhaços de um tiro de canhão do Swallow atingem-no na garganta. Ele cai morto no convés diante da marujada. Os duzentos e setenta e dois piratas se rendem. Alguns são vendidos como escravos, cinquenta e dois são levados a julgamento e enforcados em praça pública e depois pendurados de forma exemplar.


edward low
UMA CARREIRA CURTA E CRUEL

Low (Lowe ou Loe) nasceu em Westminster, Londres, Inglaterra, em 1690. Passou a infância roubando carteiras. Cansado dessa vida foi para o Novo Mundo tentar a sorte (1710). Começou vida nova em Boston (EUA), mas não deu certo. Então, junto com doze "amigos" foram para Honduras onde foram engajados numa corveta que roubava navios para vender a carga em Boston. Low, além de supervisor, carregava toras. Um dia, faminto, voltou ao navio para comer, mas o capitão disse que teria de se satisfazer com uma garrafa de rum. Low pegou um mosquete e atirou no capitão. Errou. A bala atingiu um marujo na garganta. Low & Amigos foram despedidos. No dia seguinte foram trabalhar com Francis Farrington Spriggs e capturaram uma corveta na costa de Rhode Island (EUA). A partir daí, Low & Amigos tornam-se piratas independentes e desfraldam sua bandeira preta na corveta.

Os novos piratas ficavam a espreita de navios mercantes entre Boston e Nova Iorque e os pilhavam. Depois foram para ilhas Caymans. "Nessa" e capitaneava a corveta Happy Delivery. Os índios tainos destruíram sua corveta e a marujada foi transferida para o Revenge.

Em maio de 1722, Low encontrou Lowther e ambos pilharam juntos até brigarem. Nesse ínterim Lowther capturou um brigue de seis canhões que batizou Rebecca e deu-o a Low. Em seguida dissolveram a sociedade e cada um foi para o seu lado.

Num ataque em junho de 1722 a barcos de pesca ancorados em Porto Roseway, Shelburne, Nova Escócia, Low hasteou sua bandeira preta sinalizando que não daria clemência a quem resistisse. Os treze barcos se submeteram e os piratas roubaram as cargas. Low escolhe o maior barco, uma escuna de dez canhões que batiza Fancy. Convida vários pescadores para serem seus marujos. Os que recusam são chicoteados.

Depois afunda os outros barcos e abandona o Rebecca.

Low vai para Baía de Concepção e pilha barcos ao sudeste dos Grand Banks, Newfoundland. Depois, nos Açores, captura um navio de guerra francês. Veleja para as Canárias, Cabo Verde, e vai para o Brasil. Porém pega um temporal e desiste de pilhar as costas brasileiras indo para o Caribe.

Ao leste do Suriname, Low ancora para remover algas e cracas do casco dos barcos - processo conhecido como querenagem. Inexperiente, manda inclinar o capitânia muito longe da praia. As portinholas dos canhões estavam abertas, a água entra e navio afunda.

Em 25 de janeiro de 1723, Low captura o navio português Nossa Senhora da Victoria. O capitão joga ao mar uma bolsa com onze mil moidores de ouro (moeda portuguesa,) cerca de cinco mil libras para não dar a Low. Isso provoca a ira do pirata cruel que corta os lábios do capitão com um alfanje, os grelha e força seu dono a comê-los ainda quente. Logo após, mata a tripulação restante.


Crueldade não é sinônimo de valentia

A fama de Low aumentava no Caribe e sua cabeça foi posta a prêmio. Então partiu para o Açores. Lá se associou ao pirata inglês Charles Harris e ambos aterrorizaram a região. Depois voltaram às Carolinas. Em 10 de junho de 1723 avistaram um barco de pesca e saíram no encalço. Mas Lowe logo percebeu que o barco de pesca era de guerra. Trocam tiros. Após curta batalha com o HMS Greyhound, capitaneado por Peter Solgard, Lowe abandona Harris no Ranger e fuge no Fancy com 150 mil libras a bordo para os Açores. Ambos poderiam ter derrotado Solgard, mas Lowe se acovardou. Vinte e cinco marujos do Ranger, inclusive o doutor do navio, julgados sob o testemunho de Solgard e foram enforcados perto de Newport, Rhode Island (EUA) em 19 de julho de 1723. Harris foi levado de volta à Inglaterra e enforcado em Wapping.

Em junho de 1723, Low (no Fancy) junta forças com George Lowther (no Revenge) e capturam o Delight à costa da Guiné. O comando do Delight vai para Spriggs. Dois dias depois, Spriggs e Lowther abandonam Low.

Em 10 de julho de 1723, Low está sozinho capturando muitos barcos e cortando muitas orelhas. A bordo do Fancy, e sua nova bandeira (preta com esqueleto vermelho), captura um baleeiro e deixa as vítimas à deriva num bote sem provisões para morrer de fome (mas conseguiram chegar a Nantucket).

Ao largo da costa Norte da América, Low toma um barco de pesca perto da ilha Block, decapita o capitão e manda a marujada para a praia sem comida. Ao capturar dois barcos de pesca perto de Rhode Island, a marujada se recusa obedecer às selvagens ordens de torturar os pescadores, chamando-o de "maníaco brutal".

Charles Johnson cita em seu livro "História Geral dos Piratas" que Edward Low e o Fancy tinham sido vistos pela última vez perto das Canárias e Guiné em 1723 - mas, na época em que o livro foi publicado (1724) não havia registros disso. O Museu Marítimo Nacional de Londres declara que Low nunca foi pego e que terminou seus dias no Brasil. Os livros "Pirates Own Book" e "Ossian" sugerem que após Low ter matado um marujo que dormiu sem cumprir suas ordens, os homens se amotinaram e o deixaram à deriva num bote sem provisões. Mas Low foi salvo por um navio francês. Quando as autoridades souberam quem era, levaram-no a julgamento. Foi enforcado na Martinica em 1724.


jean lafitte
PIRATA CAVALEIRO

A origem de Jean Lafitte é controversa. Alguns dizem ter nascido em Bayonne (1776), outros em Saint-Malo ou em Brest numa rica família (1778). Há quem afirme que era judeu oriundo de Bordeaux (1780), porém todos concordam ser a França sua pátria, menos o biógrafo Jack C. Ramsay, que aponta o território francês de São Domingos.

O certo é que em 1780 a viúva Lafitte e os filhos Jean e Pierre se mudam para Nova Orleans (Louisiana-EUA) onde ela se casa com Pedro Aubry, um comerciante da cidade, em 1784. Foi bom para o pequeno Jean, que cresceu observando como se fazia o bom comércio. Na adolescência já explorava o sul de Nova Orleans - local cheio de pântanos e córregos acessíveis apenas por canoas - e o Golfo do México.

Por volta de 1805, Jean se estabelece perto do Delta do Mississipi (na época era da França) e ali abre um armazém para comerciar com Nova Orleans. Seu irmão mais velho, Pierre, também tinha 'negócios' em São Domingos,
e Jean o ajuda a distribuir as mercadorias no continente.


Pirata não: muambeiro!

Jean Lafitte era educado e elegante - um cavalheiro! Certa vez aportou em Charleston e foi convidado para um baile de gala onde conheceu Beatrice Tolliver, bela filha de um rico fazendeiro. Lafitte ficou apaixonado, mas Beatrice tinha vários pretendentes. Num outro baile, um deles resolveu encarar Lafitte e o chamou de pirata. Lafitte, ofendido, o matou na hora com o cutelo, afinal ele era muambeiro. Beatrice, revoltada, disse que nunca o perdoaria. Lafitte foi embora arrasado.

Meio sem rumo, ele encontra Ellis P. Bean, chefe de um grupo que lutava contra o domínio da Espanha no México, que lhe oferece uma grana para atacar a marinha espanhola. A partir daí, o muambeiro vira pirata e ganha o apelido de "O Terror do Golfo do México".

O comércio de Jean e Pierre Lafitte ia bem, mas em janeiro de 1808 o governo americano passa a fiscalizar o desembarque de navios vindos de portos estrangeiros, de acordo com a Lei de Embargo de 1807. Acuada, a empresa "Irmãos Lafitte & Co." teve de procurar outro local para sede: a ilha Barataria que era perto de Nova Orleans e longe da base naval americana. Naquela ilha Jean reuniu a pior escória já vista. Certa vez os homens atacaram um barco americano sem ordem de Lafitte e ele, educadamente, mostrou quem mandava no bando enforcando os capitães responsáveis.


Pirata, malandro e humorista

Jean Lafitte tinha senso de humor. Devido aos ataques às costas do golfo, o governador de Louisiana pôs sua cabeça a prêmio por $500. Dias depois os moradores de Nova Orleans acordaram com centenas de cartazes espalhados pela cidade com dizeres: "Ofereço $15.000 como recompensa pela cabeça do governador - assinado: Jean Lafitte, o Pirata". O governador mandou um batalhão capturá-lo, mas Lafitte subornou ou comandante com caixas de vinho e boa comida.

Em 3 de setembro de 1814, o navio de guerra inglês "Sophia" ancorou em Barataria. O capitão Lockyeard ofereceu a Lafitte uma fragata, um cargo de diretor na marinha inglesa e 30 mil libras esterlinas para lutar contra os EUA. O pirata-cavalheiro rejeitou, mas não por patriotismo. Numa carta enviada por Beatrice ele soube que juntando suas forças com as de Andrew Jackson "sua corriola seria perdoada". Assim fez, e em 8 de janeiro de 1815, na Batalha de Nova Orleans, mostrou seu talento em guerrilhas repelindo as forças inglesas, com apenas 3 mil homens.

Perdoado, Lafitte voltou a Charleston para também ser perdoado pela amada, mas Beatrice havia se casado. Arrasado, ele volta a aterrorizar o Golfo de México.

Após essa fase de relaxamento, em 1817, Lafitte muda sua sede para a Ilha de Galveston (Texas) - que chamava de "Campeche". Ali reforma um velho forte - a Maison Rouge, antes usado pelo pirata francês Louis-Michel Aury. Por volta de 1820, casa-se com Madeline Rigaud, viúva de um colono francês, mas ela morre no mesmo ano. Nessa época, Lafitte tinha 50 brigues, comandava mil homens e ganhava dinheiro com uma nova mercadoria: escravos. Um de seus clientes era Jim Bowie, mas para tirá-lo do negócio, montou um entreposto perto da foz de Clear Creek no alto da Baía de Galveston onde árvores altas escondiam os mastros dos brigues que podiam desovar a muamba na maciota.


Fim de carreira

Em janeiro de 1821, o USS Enterprise (EUA) - visando limpar piratas do local - bombardeia a Maison Rouge. O tenente Kearney desce à praia e informa a Lafitte que ele tinha 60 dias para sair do local ou dispararia os canhões. Lafitte sabia que não daria tempo de levar seu grande tesouro, mas administrou muito bem os dois meses de prazo. Todos os dias barcos carregados com ouro navegavam na maciota para locais longe de Galveston Bay e West Bay, e voltavam vazios. O próprio Lafitte comandou vários até a boca de Clear Creek levando partes do tesouro rio acima e voltando para pegar mais. No dia 3 de março de 1821, horas antes do prazo final, Lafitte ateou fogo ao forte e saiu fora com sua corriola.

Nunca mais se ouviu falar dele. Supõe-se que morreu aos 40 anos em Yucatán durante o furacão de 1826. Outra fonte diz foi para Ilha Mujeres, na costa de Yucatán, onde morreu de febre aos 47 anos ou numa luta com nativos em 1826.

A vida de Jean Lafitte foi filmada por Cecil B. DeMille: Corsário sem Pátria (The Buccaneer) em 1958. Em Louisiana há em sua homenagem o "Jean Lafitte National Historical Park and Preserve".


capítulo 6
o pirata é pop


piratas no brasil

Vários piratas atacaram as costas brasileiras: o holandês Joris Van Spilbergen (Santos em 1615), os franceses Francisco Duclerc (Santos em setembro de 1710) e René Duguay-Troin (Rio de Janeiro em setembro de 1711). Os ingleses: William Hawkins (nordeste em 1530 e 1532), Edward Fenton (Santos em dezembro de 1583), Robert Withrington e Christopher Lister (Bahia em 1587), Thomas Cavendish (Santos em dezembro de 1591), James Lancaster (Recife em março de 1595) e Bartholomew Roberts (Bahia em 1719). Thomas Cavensdish tem uma história interessante.


O Corsário de llhabela

Em 1585, no comando de um navio da frota de Richard Grenville, Cavendish participou da expedição de fundação da Virgínia (EUA). Em 1586 foi o terceiro homem a dar a volta no mundo, chegando à Inglaterra em 1588. Em 14 de dezembro de 1591 chegou a llhabela e permaneceu ali por dez dias. Depois atacou a Vila de Santos. Sim, porque o Brasil estava sob domínio espanhol, portanto era inimigo da Inglaterra, e a carta de corso validava a pilhagem.

Cavendish bombardeou a vila para atemorizar os moradores. Não houve resistência. Seu pessoal desembarcou e encontrou o povo todo assistindo a missa de Natal. Os corsários cercaram a igrejinha e aprisionaram as pessoas ali dentro.

Sem nada para fazer, a corja começou a beber, festejar e dormir. Nesse ínterim os santistas fugiram para o mato levando todos os valores.

Dias depois, Cavendish, cansado de esperar na barra, desceu em Santos para conferir o saque, mas encontrou a vila despovoada.

Mandou os homens saquear a cidade e foram para a vila de São Vicente. No caminho queimaram cinco engenhos, destruindo a indústria canavieira local que começava a crescer.

Cavendish partiu da Capitania de São Vicente para o estreito de Magalhães. Dezesseis dias depois uma tempestade avariou sua frota e levou vários marujos. Voltando a Santos, os capitães Staford, Soutowell e Barker desembarcaram com vinte homens, que depois foram mortos por soldados portugueses.


Fim de viagem

Em 1592 saiu de São Vicente rumo a Capitania do Espírito Santo, onde aportou na baia de Vitória. Ao tentar invadir a cidade foi repelido por dois fortins construídos durante a noite. Não conseguindo derrotar os capixabas seguiu para o Cabo Frio onde aprisionou um navio português, e na Ilha Grande saqueou a população. Dali voltou à ilha de São Sebastião onde deixou alguns homens doentes, entre os quais Antonio Knivet, o autor da narrativa da viagem.

Atacado por violenta febre quis desembarcar em Santos para ser atendido no hospital, mas uma resistência organizada com tropas vindas da Vila de Piratininga o repeliu.

Doente e com febre, Cavendish só pensava onde esconder seus tesouros. Diz-se que ancorou no largo de Bertioga, viu a ilha da Moela e vislumbrou um esconderijo. Outra fonte diz que foi para Ilhabela e ali escolheu um local conhecido por Saco do Sombrio.

Cavendish morreu em fevereiro de 1592, na Ilha Ascensão, após uma tempestade que dispersou seus cinco navios. Não há provas de que o tesouro de Cavendish tenha sido enterrado no Brasil. Mas a lenda rende bons tesouros ao governo municipal de Ilhabela que atrai turistas para suas praias e locais antigamente habitados por corsários.


bandeiras piratas

Eram as assustadoras Jolly Rogers e há várias teorias sobre a origem do estranho nome. Uma diz que designava um grupo de piratas da Ásia, os Ali Raja. Outra que provém de rogue = vadio, em português; há quem defenda ser uma corruptela de Old Roger = diabo, em inglês.

Com o tempo a expressão evoluiu para Jolie Rouge = beleza vermelha, em francês, visto que muitos piratas usavan essa cor como padrão. Os ingleses alegam que Jolly Roger era o nome de um navio da esquadra comandada por Francis Drake. Em 1588, na batalha contra a Invencível Armada, de Felipe II de Espanha, o Jolly Roger foi único navio perdido pelos ingleses. Sendo assim o nome foi adotado pelos piratas e corsários, inclusive Drake.

Seja como for, os piratas as chamavam de Jack e cada capitão tinha uma Jack diferente, mas com igual objetivo: morte dos marujos e destruição do navio capturado. As Jolly Rogers geravam tal medo que as vítimas se apressavam a se render. A bandeira preta não era tão temida quanto a vermelha que significava "nada de misericórdia na batalha"!

Parece que até 1690 não havia símbolos. Então surgem as espadas, caveiras, esqueletos, ossos brancos cruzados, lanças e corações sangrando cuja associação era a morte! As ampulhetas lembravam às vítimas que o tempo delas era curto.

Alguns piratas hasteavam a bandeira de sua nação e uma Jolly Roger ao se aproximarem da presa ou usavam a de um país amigo para enganar.


Bandeira de Thomas Tew, 1692
- Tew nasceu na colônia americana, por isso era conhecido como o Pirata de Rhode Island (EUA). Por volta de 1690 já operava nas águas das Bermudas e ia até um pouco mais longe: Mar Vermelho. Apesar de Tew ter tido uma carreira curta (1692-1694), ele abriu caminho para a rota conhecida como o Círculo Pirata que muitos famosos de sua época como Henry Avery e William Kidd se aproveitaram bem.

Bandeira de Henry Avery, 1694
- Discute-se que sua bandeira era vermelha com quatro chaveirões de ouro. Embora a cor fosse usual nas bandeiras piratas, a decoração não é correta. Após a morte de Avery foi proposto outro padrão como seu: crânio branco em perfil com bandana e brinco sobre dois ossos brancos cruzados em fundo vermelho (depois preto). Se for verdade, destrona Emanuel Wynn como pioneiro a usar o crânio e ossos cruzados em 1700.

Bandeira de Emanuel Wynn, 1700
- Esse pirata francês começou a carreira pilhando navios ingleses na costa da Carolina (EUA). Em 18 de julho de 1700 os ingleses mandaram o capitão John Cranby (no HMS Poole) atrás dele no Cabo Verde. Wynn escapou ajudado por soldados portugueses e voltou ao Caribe onde continuou saqueando navios ingleses e espanhóis. Cranby foi o primeiro a descrever a bandeira preta com caveira branca e ossos cruzados.

Bandeira de Barba Negra - 1716
- Não é de se estanhar que o horrendo pirata Edward Teach que combatia de forma horrenda, gostava de brincadeiras horrendas (chamava seus marujos para beber na cabine e depois de bêbados atirava em suas pernas por debaixo da mesa) e também tinha uma bandeira horrenda. Nada mais claro do um esqueleto, uma lança e um coração sangrando sobre um pano preto desfraldado no mastro da mezena do Queen Anne's Revenge.

Bandeira de Stede Bonnet - 1717
- Bonnet não apreciava as manias horríficas de Teach, embora tenha sido seu sócio. Era chamado de "Pirata Educado". De família inglesa rica, herdou a propriedade do pai em Barbados (1694). Em 1709 casou-se, mas devido ao gênio da esposa, optou ser pirata. Em 1717 comprou um navio, batizou de Vingança e saiu com sua marujada (paga) pelo litoral oriental dos EUA capturando barcos e queimando outros.

Bandeira de Richard Wortey - 1718
- Inglês que pilhava a costa oriental das colônias americanas. Dois navios de guerra ingleses saíram no seu encalço, mas ele escapou. Ao aportar em Charleston (Carolina do Sul) para abastecer, os navios se aproximaram. Worley partiu para cima deles achando que eram mercantes e caiu na armadilha. Os piratas não se renderam e foram mortos. Worley foi enforcado em 17 de fevereiro de 1719.

Bandeira de John Rackham - 1718
- Calico Jack era um pirata diferente. Longe de ser valente, usava camisas de calicô coloridas, era bonitão e matinha duas mulheres a bordo. Sua bandeira, que não tinha ossos cruzados e sim duas espadas, foi usada nos filmes da série Pirata do Caribe. Até hoje não se sabe se as duas espadas na bandeira têm a ver com as duas mulheres. Mas sabe-se que foi capturado descansando numa ilha deserta.

Bandeira de Edward England - 1719
- Apesar do nome, era irlandês. Pilhou no Oceano Indico e na costa da África. Um de seus navios foi o Pearl que trocou pelo Fancy em 1720. England não matava ninguém, só quando necessário. Essa "fraqueza" o levou à ruína, pois a se recusar matar os prisioneiros do navio inglês Cassandra, sua marujada se amotinou e o abandonou nas ilhas Maurício. John Taylor cupincha de England, também usou essa bandeira.

Bandeira de Bartholomew Roberts, 1719
- Esta foi a primeira bandeira de Roberts, aliás, usada na terceira produção da série Piratas do Caribe: "At World's End" (No Fim do Mundo). Nesse filme Barabarossa (Geoffrey Rush) diz que o Código dos Piratas foi criado por "Morgan e Bartholomew" - se referindo a Henry Morgan e Bartholomew Roberts. Porém Roberts só tinha seis anos quando Morgan morreu, é improvável que tenham se conhecido.

Bandeira de Bartholomew Roberts, 1720
- Em fevereiro de 1720, Roberts junto com o pirata francês Montigny la Palisse, capitão do Sea King, são detonados por dois navios armados enviados pelo povo de Barbados e Martinica. Roberts jura vingança e volta com uma nova bandeira que mostra ele segurando um sabre (na mão direita) pisando em dois crânios sobre a legenda: ABH (A Barbadian Head) e AMH (A Martiniquian Head).

Bandeira de Edward Low - 1723
- No começo de carreira, a bandeira pirata de ataque usada por Edward Low era a mesma de Edward Teach (Barba Negra). Depois que a fama subiu-lha a cabeça, Low criou sua própria bandeira exclusiva com a figura de um esqueleto vermelho em fundo preto que ficou famosa. A primeira vez que ele hasteou essa nova bandeira foi em julho de 1723 quando estava no auge de suas crueldades.

Bandeira de Edward Low - 1723
- Low não era de ter amigos. Suas sociedades não duravam muito devido ao gênio e às requintadas maldades. Mas quando agia com cupinchas usava uma bandeira de seda verde Com a figura de um homem em amarelo segurando um trompete (simulando tocar). Esse tecido verde era içado no alto da mezena apenas para chamar os capitães da frota para reuniões a bordo do seu navio-capitânia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário